quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CHUVA DE SAUDADES, A CORRER DENTRO E ALTO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
CHUVA DE SAUDADES, A CORRER DENTRO E ALTO,
por João Maria Ludugero

E, de repente, ontem, fiz uma caminhada a pé, num dia de céu nublado, próximo a cair a chuva dentre a canteiro de jasmim-manga em flor...
Daí, foram alguns instantes que me salvaram de um banho de chuva. Bom, ao menos foi isso que pensei no instante em que me vi abrigado num canteiro de Águas Claras , enquanto o céu desandava lá fora.

Durante a tarde, em vez de seguir o caminho direto para casa, decidi parar para resolver algo há muito tempo pendente.
Parei, entrei, olhei pela janela. "Vai dar tempo", pensei. Não deu. Sem saída, sentei-me no sofá perto da porta, que dava de frente para a avenida. Resignado com a sorte, o jeito era esperar. Apoiei o queixo com as mãos e fixei os olhos lá fora. Foram meus minutos de calmaria em meio às horas de solavancos e caos que ditam o andar da minha vida. Senti uma vontade imensa de sair e ir para casa na chuva mesmo. Pedalar na chuva é uma das minhas formas preferidas de renovação, a correr dentro da lida.

Aquelas gotas d'água, que caíam tão aceleradamente, despertaram em mim lembranças adormecidas no cantinho da memória, em nichos sagrados de um tempo bom da minha velha infância.

Recordei-me do menino medonho João Maria Ludugero, um cabra levado da breca, de quando fugia de dona Maria Dalva, a minha mãe, para correr pelas quatro bocas da Várzea das Acácias e ganhar a rua grande pelos paralelepípedos molhados na enxurrada dos meios-fios e depois deitar na calçada da igreja-matriz do padroeiro, com os olhos fechados e a boca aberta - para pegar algumas gotas que caíam direto do céu de São Pedro Apóstolo.

Se naquele instante eu não carregasse na mochila todo o peso de ser adulto, juro que sairia feito doido na rua e encharcaria meu cabelo e minhas roupas com aquela água tão pura. Porque às vezes é só disso que a gente precisa para lavar a alma: da simplicidade de um banho de chuva. E o coração da gente bem nos apanha cheios de saudades com a cheia caída do céu, a marejar nossos olhos d'água, com afinco...

Quando finalmente o céu cessou o seu pranto, notei o ar mais puro, me senti mais leve e percebi que a vida pode ser mais bonita se a gente tiver a sorte de contemplar a chuva num dia cansativo e em que tudo parecia não dar tempo nos afazeres cotidianos da vida.

Saí para a rua de Águas Claras, bairro novo de Brasília, Capital Federal, olhei para o céu ainda meio choroso e respirei fundo, com o coração partido e os olhos marejados de saudades. Acho que a saudade tem cheiro de terra molhada... Que saudade que eu senti a me inteirar o peito de ternas lembranças da minha mãe, dos meus irmãos, amigos e de tanta gente boa que nunca esqueci, lá da minha Várzea das Acácias...

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