quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Despedida

Cecília  Meireles

Por mim, e por vós, e por mais aquilo 
que está onde as outras coisas nunca estão,
 
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
 
quero solidão.
 

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
 
E como o conheces? - me perguntarão.
 
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
 
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
 

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
 
Viajo sozinha com o meu coração.
 
Não ando perdida, mas desencontrada.
 
Levo o meu rumo na minha mão.
 

A memória voou da minha fronte.
 
Voou meu amor, minha imaginação...
 
Talvez eu morra antes do horizonte.
 
Memória, amor e o resto onde estarão?
 

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
 
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
 
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
 
Quero solidão.

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