segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SETEMBRANDO-SE..., por João Maria Ludugero.


SETEMBRANDO-SE...,
por João Maria Ludugero.

A primavera é corpo maduro de varzeana em brisa florida,
setembrando-se no gesto macio de um requebrar de ancas 
ou no fulgor de um seio arrebitado. 
Os braços em asas de vida rodeiam os dias. 
A boca molhada grita o desejo em beijo consentido. 
Deleita-se o olhar cheio do tempo vivido,
e sacia-se na dádiva do ser a correr dentro e alto. 
Na plenitude dos sentidos dispostos, 
na maciez do querer há um breve arrepio de tempo. 
Tempo de fim, tempo de princípio. 
No princípio chegam as névoas tímidas, 
lágrimas escorridas dos dias findos regando as manhãs, 
logo, logo os casulos de sol abertos que se deixam perder 
no vento soprado aquecem as tardes já quase breves.
O outono caiu em folhas com a estação do tempo.

Setembram-se as manhãs vestindo o corpo da neblina 
qual réstia de um lençol chorado da noite 
e agostam-se as tardes com o casaco de milho zarolho 
cujas espigas rebentam nos casulos já prenhes de calor. 

Setembram-se os homens que lentos no despir do verão entornam o olhar 
pelas folhas já encaracoladas por onde espreitam favos de mel em flor. 
A terra-mãe serena-se no aconchego do tempo, 
que lento mas firme desenrola os seus os seus cabelos de sol 
por entre as últimas árvores carregadas. 
Sorriem as mangas ainda adolescentes, 
balançam pesadas maduras graviolas em minuete de despedida. 
Pingam liquefeitos os cajus numa baba doce e convidativa, 
os gravatás aconchegados das suas macambiras maduram no alto da folhagem, 
Um magote de meninos levados da breca alimentam-se
do resto do tempo passado e os cachos carregados de mangas? 
Oh, esses senhores absolutos pendem grossos, maduros, tintos e dourados na perfeição do seu tempo presente...

Setembra-se o sentir em cachos robustos que latejam o orvalho da vida. 
Espreitam arquejantes por entre os laços verdes, 
rosados, dourados, roxos, macios, hirtos e quebrados 
que lhes adornam o toucado. 
Esperam ansiosos pela hora do amor da lida. 
Saciados, os bagos eclodem em líquido doce e prenhe. Tempo de vida.
Os alazões nus estremecem à neblina, 
ao calor que desce, à noite que cai. 
Nas lágrimas da Várzea recolhe-se aquele outro corpo primaveril. 
Dobra-se sobre si qual lótus saciado. 
Amanhã é tempo de remanso. 
Descaem as pálpebras, fecha-se o olhar, 
repousam os braços, descaem as pernas, 
o tronco recolhe-se, o frêmito repassa, o desejo adormece.
A estação da vida já embala em alvorecida passagem a ganhar o mundo...

domingo, 29 de setembro de 2013

PÁSSAROS DA VÁRZEA, por João Maria Ludugero.



Nesta Várzea
De ariscos imperecíveis
E renovadas esperanças,
Íntegro, um pintassilgo do alto
Entendeu por bem
Atiçar o fulgor das cantigas,
Regressar ao Vapor de Zuquinha
E soltar-se com os sabiás de Seu Tida
Dentre outros bem-te-vizinhos da Marisa...
E a partir do interior do canário-de-chão
Passar a ganhar o mundo,
Nas cordas soltas 
De uma estripulia...
Nesta Várzea,
Retiro de Seu Olival,
Espaço à flor das águas,
Ainda há lugar para atiçar encantos,
Desde o açude do Calango...
Diga lá, dona Penha de Carvalho,
Que venha viver a cultura 
Da Feliz Cidade!

SEU ODILON LUDUGERO, MEU PAI, por João Maria Ludugero.

SEU ODILON LUDUGERO, MEU PAI,
por João Maria Ludugero.

E o arauto divino 
Fez a anunciação 
Da chegada de um 
Menino varzeano, 
Filho de Dona Dalila 
Louvado seja, 
Seja bem vindo, 
Prezado menino Odilon! 
Uma estrela se acendeu 
No alto da Várzea das Acácias, 
Riscou de prata o céu de São Pedro, 
Belo astro de brilho intenso 
Nunca dantes visto: 
Nasceu Odilon de dona Dalila! 
Repicaram os sinos da matriz... 
Soaram as cornetas da lida 
Dos anjos em voos pela Várzea a dentro... 
No então cenário da Vargem; 
No calor do abraço da terra 
Um pequeno ser reluzente. 
É aquele senhor que até hoje proclamo 
Dentro e alto pelos acordes do tempo, 
Amor traduzido pelas quatro bocas da Várzea, 
Relicário maior nas quebradas do vento, 
Banhado nas águas doces do açude do Calango... 
No meu coração de filho, Seu Odilon Ludugero, 
Ele é um terno soldado da boa vontade, 
Esse senhor varzeano é digno de viver pra sempre! 
Meu prezado PAI, EU TE AMO!

DONA MARIA DALVA: ESTRELA PRA VIDA INTEIRA, por João Maria Ludugero.


Olá, minha Várzea amada,
Que ao entardecer
Um bando de pássaros
Desenha
Na palma das nossas mãos
Uma vida inteira
E tudo parece
Mais azul que os céus
No teu linguajar
Mais alto que o voo aberto...
Assim duas linhas paralelas acontecem
Prolongadas a correr pelo interior,
Aonde se encontram afoitas,
Aonde os olhos não mentem
Ao lusco-fusco da tarde amena
Ao chegar a noite alta escancarada,
Entretido nos braços 
Da estrela Dalva, minha mãe,
Quando tudo é mais claro 
A me ninar a contento aos cafunés,
Dentro do teu mais lindo sorriso imenso!

sábado, 28 de setembro de 2013

O ETERNO TAMBOR DA CANTIGA, por João Maria Ludugero

A canção virou hospedeira. 
Quando a zoada retumba no ar 
Por amperagem 
Ou por mãos ágeis 
De cantadores, 
O corpo vira aparelho, 
Alazão para a música cavalgar. 
Na cacunda, 
O toque da cantiga 
E o sambalanço na ponta do pé. 
Olho a saia rendada, 
Florida, 
Daquela música 
Ou daquela musa 
Que o timbre galopa. 
A música incorpora, 
De dentro pra fora 
Da pele da morena, 
Desafiando a serelepe dançarina. 
A música é a voz dos deuses, 
De onde a linguagem se achega. 
Obra prima da humanidade. 
O coco, 
O baião, 
O boi-de-reis, 
O forró varzeano. 
Do catimbó à macumba 
O baque solto cadente se eleva, 
Vira uma estrela brilhante. 
Eu me engendro derretido, mas ainda apeado, 
Ao som de uma toada pedindo mais alma 
A um varzeano nunca prostrado ao Vapor, 
E, de lá, age a dona Ana Moita 
Pedindo para a moça faceira 
Girar para a batida do tambor... 
Não sei se a varzeana dança para o santo 
Ou se o santo dança com ela aos zinabres 
À margem acesa do fogo-de-chão. 
A cantiga dá umbigadas nos magotes 
De meninos afoitos da Cidade da Cultura, 
Na roda de samba da rua reverdecida 
Do beco que se alastra até ao riacho da Cruz. 
É a hora do samba de lua debandar a tristeza 
Da vida latente na Várzea das Acácias. 
A morena estica seu feitiço 
Ao redor de mim 
E faz-me convidá-la 
À outra dança esfuziante, 
Mais solta e atrevida. Convidativa, 
A música traz uma possessão 
Vibracional, intensa, ávida... 
Eu danço com ela, impávido. 
Corajosa, ela encara a mudança 
Que alavanca a vida da gente, 
Diretamente alinhada 
A renovar esperanças... 
Eu sinto seu abraço com alegria 
E desatado avanço sem alardes, 
No embalo sublime dessa cantiga 
Que me acerta o passo, dia após dia, 
Sem nenhum preconceito da lida.

domingo, 22 de setembro de 2013

UM POTE DE LEMBRANÇAS, por João Maria Ludugero


Eu sinto que há um riacho que atravessa a casa. 
Esse rio, dizem, é o correr do tempo em dádivas.
E as lembranças são peixes nadando através da correnteza.
Minhas lembranças também são aves tipo canários de chão. 
Se há inundação é de céu, repleção de nuvem cheia de azul. 
E por esta nuvem eu sigo dentro da minha lembrança.
A casa, aquele habitat tão nosso, era morada iluminada 
Tanto de noite quanto de dia. E a gente se bastava,
Empolgando-se ao quebrar o pote da fantasia...
Estranho, dirão. Noite e dia são metades, folha e verso? 
Como podiam o claro e o escuro repartirem-se em desiguais? 
Explico. Bastava que a voz de minha mãe 'Maria Dalva de Seu Odilon'
Em cantiga se escutasse para que, na mais alta madrugada, 
Se abrisse uma alvorada de amores imensos. 
Lá fora a chuva sonhava, tamborileira. Pois, sim. 
E nós éramos um magote de meninos para sempre,
Levados da breca, a cometer divinas estripulias,

Fosse na chuva ou na estação do estio...
A gente se consentia em admiráveis embocaduras!

domingo, 15 de setembro de 2013

"JORDANEJAR", por João Maria Ludugero.

Jordana Majella Ludugero
Jordana: ainda ontem, eras bem criança…
E olhavas “tudo”, com o ar feliz da vida!...
Do teu rosto infantil, vem-me à lembrança,
Um sinalzinho na ponta do nariz! 

Custa-me crer que a vida, tanto andou,
Ao ponto de já sermos crescidos!
E aqui estou a me lembrar de “Nós”!…
De um tempo bom assim ficou, 
Desse que pra sempre em nós ficará!

Recordo dos teus encantos de outrora:
Tuas belas tranças com laços de fita!
Dançavas, tão faceira… e tão bonita!...
Só não eras mais bonita, que “agora”,
Porque pra mim tu já nasceste bela!

Pois, teus encantos de “agora”, são
Impregnados de maturidade!…
És uma fonte acesa de carinho!...
Um relicário de compreensão! 

Ah, Jordana, se eu tivesse o dom
De revelar na tela, o pensamento,
Desenharia, à luz do sentimento,
Teu bem querer, tanto sentimento bom!…
Ó, menina linda, neta de Seu Odilon! 

E desenhava um permanente carmim 
Em tua boca, na cor preferida:
Tom rosa encarnada, retratando “vida”…
A colorir teu rosto, eternamente!…

Desenhava também, o teu olhar
Cor de arrebol em castanho… cor da lida!…
E desenhava o lindo coração
Que pulsa em teu peito, a borbulhar,
- Germinando sementes de ternura -,
Sempre amoroso, amigo e fraternal,
Que faz de Ti, ó menina, um ser especial,
De vertente alma luminosa, bela e pura!

Prodigamente, a poesia extasia;
Fecunda versos cheios de emoção!
O sentimento, é esboço em partilha;
A emoção, crescente, me estimula!…
E do meu íntimo, nasce uma cantiga
Em homenagem a Ti, minha amada filha!

Com devoção e pertinaz fervor,
Eu rogo a Deus e à Nossa Senhora,
Que tua vida, em cada nova aurora,
Seja um remanso de perene Amor
A encantar o olhar, como se fosse
Um cenário de luz e de esperança;
Palco de sonhos e de eterna dança,
Sob os acordes da canção mais doce!

Esta canção que ternamente abriga
A essência pura do teu bem querer
Como filha, irmã e querida amiga;
Como grande menina, és um grande ser…
Não tem somente a minha assinatura...
Além de mim, rubricam, com carinho,
Pessoas que, também, te amam como eu;
De todas, tens os votos de ventura,
Para que brilhe sempre em teu caminho,
Essa luz natural que Deus te deu!...

O teu sorriso inspira um lindo acorde,
E me faz crer que “sonhar é preciso”!...
Chego a pensar que o solfejar risonho
Do bem-te-vi, se afina em teu sorriso!

E sempre que eu ouço: “bem-te-vi”...
A minha alma vibra reverdecida.
Quantas vezes ouvistes, e ouvi:
“Bem te vi”, “bem te vi”, à luz da vida!...
E, radiante, ele beijou a flor da tua alma!

Quantos fins de semana, com festejos:
Matinal, matinée, brincadeiras e sonhos
Além dos nossos folguedos nunca entardecidos,
Ao sabor de poéticos arpejos
E do meu repertório de Poeta-Pai,
Que anima nossos festejos pela vida
Com a essência de versos benfazejos…
Ponto alto, onde os corações alados
Decolam, em translúcidos voejares...

É, lembrando esses ternos momentos luminosos
(Por serem muitos, - a extensão, não meço),
Que espero por dias venturosos
Para Ti e todos Nós!… Por isso, peço
Que o Supremo Arquiteto acolha e realize
Nossos inteiros pedidos, sonhos e desejos!…
E que a chama do Amor, reprise
Do colibri os líricos 'adejamentos'!

Solfeja a voz que louva e acarinha!…
Solfeja o coração que ama e diz: 
Cativante e querida Jordana Majella Ludugero,
Sejas Feliz!… Feliz!... Sempre Feliz!
Dia-após-dia, pela vida inteira!!! 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

ARREBOL, por João Maria Ludugero



A dádiva em mim é dividida,
Dúvidas recobrem a tabuada
E tantas divagações na galeria
Me dividem no que penso,
Me divirto no que consinto,
Indivíduo a se inteirar no labirinto
Que eu, feito poeta, tomo assento
Num andar em débito automático.
E, portanto, apressado me esbugalho
A correr dentro e alto, sem o medo voraz 
Da cuca pegar, e só de manjar disparo em rezas.
Daí me acho no caminho de uma promessa,
Sob um acordo destemido em acordes de arrebol
Desses que desapeiam a alma da gente,
Ao ver no azul a estrela D'alva faiscante, 
Após o laranja repintar o céu 
Com o sol poente ao lusco-fusco.

Minhas Flores desabrochadas

Visitantes do meu Jardim

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