domingo, 13 de outubro de 2013

AMPLA VARZEANIDADE, por João Maria Ludugero.

Pelas quatro bocas com chaves abro,
Um lugar vivo e de boa gente,
De tempo caloroso e amáveis criaturas.
Sei que a pacata vida habita ali
Na terra de Joaninha Mulato,
Mãe de Bita, de Nezinho, de Jacó e de Beja
Também mãe de Dezilda, de Nina, de Do Carmo
E da inesquecível Nina, irmã de dona 
Neve do Fuxico multicolorido, e zás!
Para dentro, vendo, olhando, rumei,
Bebi garapas, iguarias comi,
Na terra abençoada da menina 
Do arretado e valoroso pitéu 
Do Senhor Plácido Nenê Tomaz de Lima.
Paisagens lindas e açudes eu vi,
Belas paisagens reverdecidas amei.
De saber, cheguei à cidade
De Silva Florêncio e outros senhores,
Bons varzeanos de renovadas esperanças,
Encantos de vida na verdade benquista.
De sete caminhos são as tuas veredas,
És pequena, pelo rio Joca banhada
Bela, és por todos amada
Na luz que ilumina seus becos e ruas.
Vapor de amenizar bons ares na tarde amena,
Ariscos de água doce, searas de cana-caiana,
Gaiatos a brincar na Vargem,
És um quadro dos mais belos pra mim.
Retiro de sol do sítio de Seu Olival de Carvalho,
De casas-de-farinha e de laranja doce...
É agora, como se fosse (pois é!)
O nosso pacato reino potiguar 
Da cultura e da felicidade.
Na verdade não há outro ideal,
A minha terra é Várzea, minha seara
De São Pedro Apóstolo, berço de dona Dalila,
Mãe do meu amado pai Seu Odilon Ludugero!

RECADO DA MINHA MÃE MARIA DALVA, por João Maria Ludugero.


Meus queridos filhos, 
A morte não é nada. 
E eu somente mudei 
Para o outro lado do caminho. 
Eu sou eu, vocês são vocês. 
O que eu era para vocês, 
Eu continuarei sendo. 
Me deem o nome: Maria Dalva, 
O nome da radiante estrela 
Que vocês sempre me deram, 
Falem comigo de boa lembrança, 
Como vocês sempre fizeram. 
Vocês continuam vivendo 
No mundo das criaturas, 
Eu estou vivendo alto, 
No mundo do Criador. 
Não utilizem um tom solene 
Ou triste, continuem a sorrir 
Daquilo que nos fazia rir juntos. 
Rezem, sorriam, pensem em mim. 
Rezem por mim, eu gosto disso, 
Pois estou no reino da paz verdadeira. 
Que meu nome de Maria 
Seja pronunciado a correr dentro, 
E alto como sempre foi, vertente, 
Sem ênfase de nenhum tipo. 
Sem nenhum traço de sombra 
Ou tristeza em suas mentes. 
A vida significa tudo e mais 
O que ela sempre significou, 
O fio do labirinto não foi cortado. 
Porque eu estaria fora 
De seus pensamentos 
E não no interior do coração, 
Agora que estou apenas fora 
De suas vistas diárias? 
Eu não estou longe, 
Apenas estou noutra aresta 
Do outro lado da estrada... 
Vocês que aí ficaram, sigam em frente, 
A vida continua, linda e bela 
Como sempre foi...Acreditem: 
Eu estou a olhar vocês, dentro do tom, 
Dia após dia, satisfeita no papel de mãe, 
Como que significo para todos vocês... 
Só lhes peço mais uma coisa: 
No se esqueçam de cuidar 
Do seu velho e querido pai Odilon!

UM PASSADO A LIMPO: VÁRZEA PRA SEMPRE, por João Maria Ludugero.



Vou-me embora pra Várzea
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
A menina do pitéu
De Seu Plácido Nenê Tomaz de Lima,
Craúna, Xibimba e Vira de Lucila de Preta
Vou-me embora lá pra Várzea.

Vou-me embora pra Várzea
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros-de-boi
Que nos levam aos Ariscos
De Seu Virgílio e de dona Eugênia Bento,
Pra o sítio de Zé Canindé
E pra o Retiro de seu Olival de Carvalho
Lá tem garapa, caldo de cana-caiana e tapioca
Lá tem caranguejo de Seu Antonio Lunga.
Lá tem sinuca de seu Otávio e de Seu Lula.

Lá dançarei um forró, rela-bucho
Lá na rua do arame
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora lá pra Várzea 
de Nina de Joaninha Mulato,
Vou comer beiju e tapioca
Com manteiga de garrafa.

Lá na Várzea do passado tinha Jerônimo 
Aquele Herói do Sertão
Tinha Cícero Cego a tocar sua sanfona
Lá na rua da Matança dava a maior diversão
Tinha passeio nas bicicletas de Zé Estevão
Tinha cinema de Zé Onório
Lá na Escola São Pedro,
Onde a gente assistia Tarzan,
Eu, Gracinha Bento, Marili, Riselda 
E Terezinha Tomaz de Lima.

Quando toca Pata Pata,
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
No salão de Manoel de Ocino
Cantando Banho de Lua 
E dançando Gretchen...
Tem Picica de Xinene de Cícero Paulino,
Tem Chiquinho de Antonio Euzébio
Tem a praça do Encontro
E os hibiscos dobrados rosas e encarnados
De dona Maria Orlanda de seu Nestor,
Dando cores e aromas pela rua
Vou-me embora lá pra Várzea,
Vou namorar na rua Grande
Vou-me embora pra Escola Dom Joaquim de Almeida
Onde a merenda de dona Maria Gomes era boa demais!

Lá tem meninas "requebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a pó de arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Sherazade,
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho,
Na esquina de Seu Minor.

E lá no cinema de Zé Onório
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de chita ou organdi
Sem gola de tafetá.

Os homens lá da Várzea
Gostam de andar tinindo
Sapato Cavalo de Aço,
Kichute e conga 
Ou tênis esportivo
De camisas Volta ao Mundo
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo,
Brilhantina cintilante como o sol.

Vou-me embora lá para Várzea, 
Lá tinha tudo que há de bom!
Lá na Várzea era outra história!
Outra civilização...
Tinha Bidu e Nequinho 
Tinha Sué e Biga pai da Edilza, 
Aprontando o caldo de cana,
Tinha Albertinho Limonta
Tinha também Mamãe Dolores,
Marcelino Pão e Vinho
Tinha Bat Masterson, Daniel Bonnie e Lessy,
Túnel do Tempo, tinha Rintintim e Zorro
Lá na casa de Dona Risolita Ribeiro,
Máe do inesquecível Ré da Viúva!

Lá no passado tinha pouco recurso, 
Mas viver era um estouro
Tinha rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro,
Se ouvia velhas audições musicais
Cancioneiro de sucesso,
Tinha também Repórter Esso
Com notícias atuais.

Tinha petisqueiro e bufê 
Junto à mesa de jantar
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brincava de cabra cega
De drama, de garrafão
De rolimã na ladeira,
De rasteira e de salpicão 
De mamona.

Lá, também tinha radiola 
De madeira e materiais de zinabre, 
Lá se fazia caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estudava a tabuada
Com dona Marica Fernandes
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo!

Tinha na revista O Cruzeiro 
A beleza feminina da hora
Já aparecia menina misse 
Faceira botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Hollioodd
Tinha o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Zezé
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.

Se ouvia página sonora 
Na voz de Ângela Maria
"— Será que sou feia?
— Não é não senhor!
— Então eu sou linda?
— Você é um amor!...
Canta Baba-Lu ou um Tango pra Teresa"

Quando não queriam a paquera
Mulheres falavam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.

No passado tinha remédio
Pra quando se precisar,
Lá tinha seu Bita Mulato
E a farmácia da família,
Que tinha prazer de curar,
Lá tinha Água Benta, Sonrisal,
Mel Poejo e Biotônico Fontoura,
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tinha também, aqui pra nós,
Uma tal Robusterina 
A saúde feminina.

Vou-me embora pra Várzea
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma rede possante
Daquelas de algodão cru
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais grilo e vaga-lume,
Mas isso dá medo não!
Vou-me embora correndo 
Lá pra Várzea do passado,
Comer cuscuz de milho zarolho,
Sequilhos e munguzá,
Chupar pitomba, caju e cajá-manga
Lá na casa de dona Julieta 
Lá no Itapacurá de seu Orlando Cunha, 
Pai da Edileuza de Maria José Alves.

Minhas Flores desabrochadas

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