sexta-feira, 14 de março de 2014

RECOMEÇO, por João Maria Ludugero

RECOMEÇO, por João Maria Ludugero

Não só de manjar,
Mas hoje me deu saudade
Será que é mal da idade?
Ou o destino está agindo com maldade?
Esses dias normalmente demoram pra passar
E o vazio se demonstra como um árduo mal-estar,
E me lembro dos dias em que passávamos conversando
Eram dias tão felizes, caminhando e te abraçando.
Mas o que me sobrou agora são memórias de estações
O calor do verão em que andávamos de mãos dadas
O romantismo do vapor da tarde amena,
Quando rindo descíamos as escadas
A cada dia surpreendente de outono,
Em que saíamos sem camisa-de-força
E chegávamos abraçados tentando nos proteger.
E o frio do inverno, em que passávamos
Os dias juntos sem sair de casa, afim de nos aquecer
Será que Freud explica essa situação?
Acho que não. Mas o que tenho em minha mente
É que fiz algo diferente e já sei que dá pra voltar atrás,
E contigo contemplar o entardecer de um céu lilás.
Às vezes a chance de ser feliz passa
Por nossa vida e a gente nem percebe
E o que era realidade é a solidão
Que não mais me sucede!

VÁRZEA-RN: UM PASSADO QUE NÃO SE FOI, por João Maria Ludugero

VÁRZEA-RN: UM PASSADO QUE NÃO SE FOI,
por João Maria Ludugero

A saudade me faz lembrar das andanças
De uma Várzea das Acácias de Joaninha Mulato,
Seara potiguar banhada pelo rio Joca.
Recordo-me dos meus chinelos de outrora,
Das minhas antigas bolas dentes-de-leite,
E das minhas antigas canelas finas.
Rico o estalo que me anima, e até
Emite cantiga quando versejado –
Este não é só singelo estalo que uiva;
Quando me agita é o que muito me contenta,
Ao me enveredar pela Várzea
De dona Sule e de Seu Nezinho.

O cheiro do cajá-manga do sítio do Maracujá
Invade o meu paladar e me eleva o apetite
Junto de si para tantas delícias e temperanças
Que me ensejam a bons ares aos pulmões;
Vejo as lascas de cana-caiana pelo chão de dentro,
E caindo novamente sob o interior dos Ariscos
De Seu Virgílio de Dona Eugênia Bento.
Este aroma que cobre a Várzea,
Dentro das casas, tem cheiro de beiju de coco,
De brotes e sequilhos, de doces de caju,
De bolos pretos e de fubá de milho zarolho
E das tapiocas nos tabuleiros de dona Zidora Paulino,
Dona Sinhá me pegava num abraço apertado
Naquele ontem muito distante,
E me sustentava quando eu ia cair.
Ela me brindava com doces cocadas e canjicas
Além de fazer puxa-puxas de rapadura e quebra-queixo,
Sem esquecer das soldas e regalias de dona Carmosina.

Previsível era o dentro da minha casa,
Na lembrança ela era viva e presente,
Enquanto não tinha as fotos, as brasas
Para manter o meu furor pela vida em estripulias.
Abrir aquela porta e não encontrar dona Maria Dalva, minha mãe,
Já não me segura as lágrimas e choro as recordações de outrora;
É coisa deste presente aqui, e agora fico nesta rede que
Tanto me acolheu quando na Várzea de ontem eu estava.
Dona Maria Dalva, minha grande amiga;
Ela acolheu tanta gente além de mim.
Não cobriu as amantes,
Não afundou nas surras,
Não impregnou a sujeira,
Mas me renovou em esperanças.

Era um menino levado da breca e agora, um adulto.
O recinto, porém me assustou, sem a presença dela.
Os olhos nos quadros, nos retratos da estante me seguiam
E relembravam todos aqueles que eu não via mais.
Sentia aquelas órbitas dantescas e macabras,
Que antes eram amadas por mim, me seguirem como se fossem
Berrar por auxílio. Não podia ajudá-las.

Rodopiei nas minhas órbitas e me apoiei com afinco,
Na parede da sala-de-estar, sem mais ela estar por ali.
A sua ausência era fria. Era sólida. Engoliu-me;
Aclivei pelos corredores para chegar às imagens de Santos,
Dos anjos-de-guarda e de Deus de sempre;
Cheguei ao meu quarto. Vislumbrei as paredes caiadas de branco,
O abrir da porta foi o ontem, e me transpassou para os brinquedos,
Os livros, a pintura, as roupas, as janelas, o assoalho...
Era eu brincando a correr dentro daquelas lembranças
Da juventude e da velha infância;
A meia-idade era minha agora (talvez, um pé na velhice).

Olhei para as coisas – Ficaram encardidas, mas eu não me encardi.
Sentei-me ao lado das lembranças e passei a con/versar com elas.
Elas me contaram um bocado de algaravias, dessas de quem não viveu
Enquanto eu estive entretido em ficar tão longe;
E sobreveio um estalo, um acanhado e esquisito estrondo,
Mas que me deixou o peito todo troncho e o coração partido.
Senti um grande alarido, desses de menino chorão...e chorei.
Mas protegido, abracei o meu assanhado amor de outrora,
Abracei o passado, e me enrolei em lembranças à míngua.

Adormeci, acordado em sonhos,
Mas algo me chamava e invadia;
Não era a poesia propriamente dita.
Eram as sobras dos recordares que me procuravam,
Avistavam e me preenchiam, apesar dos tais pesares,
Inteirando agora e para sempre todo o meu reencontro.

VÁRZEA, WANDICK LOPES, DONA MELISINHA E A MARISA (UM CONVITE AO INTERIOR) por João Maria Ludugero


VÁRZEA, WANDICK LOPES, DONA MELISINHA E A MARISA
 (UM CONVITE AO INTERIOR) - 
por João Maria Ludugero.

Lembrar da Marisa é como voltar à casa para receber a bênção dos pais.
Dali tenho boas recordações, da minha infância feliz, dos banhos de açude., das estripulias de menino da Várzea. Foi ali que tive muitas histórias felizes, onde comecei a gostar das coisas da natureza, de andar descalço pelas trilhas dos cajueiros, de admirar a casa grande da fazenda, a criação de gado e cavalos, o curral, a pastagem, o gigantesco plantio dos coqueirais.

E essas lembranças sempre chegam assim, como um filme bom, vêm a calhar. Sinto-me na obrigação de registrá-las, no intuito de que não venham a perecer no vazio, no desvão do tempo. Não é ainda aqui que se vão acabar. Como tudo na vida passa, tendo começo, meio e fim, isso poderia se apagar de repente. Mas eu insisto em fazer voltar a esse tempo, e eu volto à minha Várzea, e revisito a MARISA - Maracujá Agropecuária S.A.

Daí, então me vem a imagem de Wandick Teixeira e da professora Amélia Bezerra 'Melisinha' Lopes, marido e mulher, amantes desse lugar abençoado, e, em pensamentos, retorno ali nem que seja para me servir de coalhadas, leite azedo com mel de engenho e outras comidinhas da terra, além de degustar cajás-manga, pitangas e tamarindos direto no pé, bem ali no oitão da casa, debaixo do alpendre.

Confesso que isso não me chateia nada, mesmo que seja para guardar essas doces lembranças, num preciso resgate de raízes que irão ficar para sempre, no escaninho das memórias varzeanas.

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