sábado, 25 de janeiro de 2014

AH, MINHA VÁRZEA, COMO GOSTO DE ESCREVER! por João Maria Ludugero

Várzea-RN_(1) (1)
Várzea RN Cidade da Cultura JM
Travessa Brasiliano Coelho Várzea RN 2014
Igreja-São Pedro-Várzea RN


 
 
 
 
 
 
AH, MINHA VÁRZEA, COMO GOSTO DE ESCREVER! 
por João Maria Ludugero


Eu gosto de escrever, colocar as ideias no papel, alinhá-las. Dá gosto trazer as palavras à tona, ordená-las, fazer a composição, enquadrá-las, dando-lhes novos sentidos, sem delas tirar a razão, sem a intenção desesperada de dizer seu significado, se as palavras são frias ou meramente calculadas.


Gosto dessa coisa de descrever como quem pincela o que sente, de ver a alma que existe nas palavras, que dão vida às letras. Não escrevo por nada não. Gosto de mostrar meu lugar, com orgulho imenso. Gosto tanto de mostrar minha Várzea, minha terra amada, minha condição varzeana ou coisa que o valha. Exponho-me, sim, com enorme alegria de demonstrar isso, não me preocupo em mostrar minha cara, ou minha cabeça achatada de nordestino, cabeça de jerimum, que seja, como diria um amigo meu. Tenho orgulho dessa beleza que carrego comigo toda vida.

Gosto de descrever minha infância, sem síndrome de Peter Pan ou coisa assim. Gosto de buscar lá naqueles dias de casulo o sol que eu conseguia pegar com a mão, esse sol que jamais me abandonou. Juro, de dedos cruzados, que recorro sempre a ele, toda vez que o socorro me tarda chegar.

Gosto de tingir o papel com minhas palavras. Elas dão mais cor à primavera que invento, recheadas de contentamento, de pescarias de sonhos acordados em pleno rio Joca, de idas e vindas ao Vapor e seus ariscos caminhos que levam a novas esperanças, a maracujás, itapacurás, lagoas e outros riachos de mel e seixos.

É por demais gratificante pincelar essas coisas simples, que tanto bem me trazem ao espírito ao descrevê-las intensamente, digo, assim com toda força, pois sou assim mesmo intenso, até exagerado, confesso, mas não sei fazer diferente nem ser morno. Gosto de recordar dos pincéis folclóricos das cantigas do meu lugar, das cirandas que nos fizeram deitar e dormir com o sereno da lua, ali na rua coronel José Lúcio Ribeiro. Essa lua que me banha a alma de prata toda vez que me vejo a brincar lá no arisco da inesquecível madrinha Onélia de seu Raimundo Rosa, junto com os amigos Janilza e Janilson Carvalho. Dona Onélia, para mim, sempre foi sinônimo da doçura e da bondade humana. Como não guardar essa gente boa no cofre do coração e atirar a chave fora, sem recorrer ao santo chaveiro Simão Pedro, detentor das chaves desse paraíso?

Por isso, carrego comigo esse orgulho de ser varzeano, de escrever, de poder dizer isso com todas as palavras, sem nunca me cansar do tempo que dedico a escrevinhar acerca do meu lugar, abrindo todas as cancelas, sem desesperar nem achar que tudo isso é besteira. Enfim, minha esperança é metida a besta. Ora, ora escrevo e vou continuar a fazer isso por muito tempo ainda, assim ando mais leve, facilitando minha cabeça a pensar... não quero perder a cabeça tão cedo, não quero passar pela vida com a cabeça a vagar pelo chão das futilidades, tal qual um jenipapo maduro que se espatifou nesse chão, em obediência à lei da gravidade. Puft, plaft, zaspt!

Calma, oh, Seu Isaac Newton, ainda tenho muito a escrever... careço de saborear a deliciosa maçã da vida, sem ter medo de que ela venha a cair sobre a minha cabeça! Escrever me atrai, faz-me viajar no pensamento. Nada vai nos separar, de unir meus versos e con/versar como quem degusta um manjar de Deus. Eu gosto muito de escrever, de amar minha Várzea das Acácias, alguém se arrisca a duvidar disso?

EU-DESNUDO, por João Maria Ludugero

 
 EU-DESNUDO,
por João Maria Ludugero

Desnudo,
eu ficava inteiro na janela.
Não havia nenhuma vergonha 
a cobrir meu corpo de amarras.
De frente e de verso,
de todos os lados,
eu me via no espelho 
que se abria frente à solidão da rua.
E tudo mais o que advinha 
abundava na beleza da nudez
que vinha de dentro,
que saía da moldura do quarto
e ganhava o mundo além das persianas,
de fora pra dentro, vice-versejando, 
onde me banhava o sol,
eu-menino de lua ou de chuva 
sob a luz do olhar travesso
que era imensa, ardente,
tão intensa assim 
que me achava a rutilar,
botando no chinelo a vida medíocre, 
libertando-me das algemas do que era ser feio.
Entrementes, nos parênteses vãos 
do pensamento, eu corria pela lua branca.
E seguia rente às estrelas, seguro de si,
sem pré-ocupação com as verrugas 
que se alastravam pelos joelhos 
quando, borboletando o horizonte,
a inocência me criou encantos e sonhos 
acordados no quarto do por-enquanto, antes do já cresci,
quando ainda não tinha vergonha de estar nu
a coçar a bunda na janela, a se enxergar 
de tamanha vontade de ser eu-mesmo,
perfilando a poesia exposta
que já morava em minha boca,
a me limpar a vista ao verbo escrito 
por me achar desnudo, atrevido,
ao me tocar a avidez da pele o lume,
sem mais turbar a mente de prontos costumes,
conhecendo as maçãs ainda verdes, 
sem receio de ser expulso de vez
do paraíso.
É consabido que há corpos 
que se encharcam de medos
que se recriminam por sentir o gozo,
que certamente não se tocam,
por não perceber,
a nudez da alma...
Aqui exponho a minha nudez, 
que vem de dentro, liberta e sem tarjas.
Porque teria vergonha de ficar nu,
se a vida me fez assim aceso poeta?

VÁRZEA-RN: POTIGUAR VARZEANIDADE PLENA, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VÁRZEA-RN: POTIGUAR VARZEANIDADE PLENA, 
por João Maria Ludugero

Não só de cubar, mas olha, moço,
Várzea é isso que o senhor está se vendo:
Vargem, Vapor, Seixos, Ariscos
Um bocado deles,
Iguais e diferentes.
O senhor me entende,
Iguais pela natureza de proteger a gente contra o mundo,
De resguardar algum retiro para o sossego, dentro e alto,
Diferentes no interior de cada um em particular,
E no jeito de cada um enxergar o que vê, amiúde.

O senhor sabe, não só de manjar,
Mas tudo pode ser assim ou assim:
Lajedos, açudes, casas em ruas singelas, vias e becos, 
Soldas, sequilos, regalias em bolachas e bolo-preto.
O próximo e o longe, o fundo e o raso, juncos e beldroegas.
O lugar de dentro e de fora da Várzea das Acácias.

Se o senhor me permite,
Até o bonito e o feio, não tomo partido,
Encarnado ou reverdecido, o direito e o torto, 
O corujão e o bacurau,
Tudo tem o lado de lá e o lado de cá.
O que a gente vê e o que não vê:
As encruzilhadas, a ponte do rio Joca ao riachão,
Curvas e caminhos que levam ao Itapacurá.

É assim com as renovadas esperanças,
Assim é com as criaturas da seara do açude do Calango.
Todo mundo, na lida, é mais do que parece
Ou menos do que aparenta ser.
Assim é também com as histórias:
Cada um conta do seu jeito e forma
E estende à moldura da sua maneira.

É assim nos desencontros na praça do encontro,
O que um fala, o outro escuta a metade
Ou o dobro do que entende, e não se faz conta.
No pão-pão, brotes ou bolachões em regalias,
Aqui é o que acontece com a gente todo dia:
O de costume e o sem aviso, balaios e flandres,
Lugar aonde o Apóstolo São Pedro está lá de sentinela,
Mas não de costas para a rua do Arame!

Uma chuva distante, um eirado desassossego,
Uma tristeza ao estio, uma alegria em aurora,
O que Deus manda - seja de bom e de ruim -
Tudo misturado ao nicho das nossas virtudes,
Ou seria por merecimento aos filhos da Várzea.

A gente é que separa e leva a acorde os sonhos
Ao cair da noite no que atravessa o travesseiro.
No outro dia alvorecido, uma reza em punho se faz
Se Deus estiver de acordo, advém uma bênção em porvir,
O galo canta, a gente espreguiça e bem se anima consentido,
E a vida varzeana prossegue com esperanças novas...

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