O LANDUÁ
Autor: João Maria Ludugero
Xibimba vai à pesca.
Pula de contente ao se achar
Fisgando uns piaus, uns carás
Para fazer pirão escaldado
Com farinha de mandioca.
Para dar cor à sua cara pálida,
Para poder dar sustança às pernas
Para poder o corpo aguentar.
O menino avança ao sol,
Desde cedo caleja seus pés
Na areia quente do rio Joca,
Feito lambari a saltitar fora d'água
Na peleja de saciar a fome da mulinga
Arrasta-se ao riacho raso,
Onde crédulo insiste em lançar
Seu gasto landuá velhinho
Com alguns buracos e
Uns tantos remendos.
Buliçoso na baldeação das águas,
Mergulha o menino varzeano
Em busca de algumas piabas,
Jundiás, curimatãs, aratanhas
E principalmente traíras.
Ele se afoita a ir mais fundo, astuto,
Revolvendo as águas mansas,
Abrindo-as, na esperança
De tirar do rio seu sustento,
Apanhar o peixe necessário
Para encher o galho da enfieira,
Sem carecer de abarrotar o samburá,
Mas garantir que não se escafeda tão cedo,
Não antes desse moleque ganhar o mundo.
Ganhar o mundo já sem seu landuá,
Mas sem perder a alma de arrasto,
Quando as traíras lhe dizimarem
O rudimentar instrumento de pesca,
Nos contornos desse efêmero rio
De salobras águas barrentas.