Autor: João Maria Ludugero
Dia de domingo.
Vou à feira lá na Várzea.
Descontraído, peito aberto,
Livre e solto, de calça curta
E sandália de dedo.
Eu vejo o menino Craúna
A descascar laranja,
Chupar o fruto, comer o bagaço
Me apanho envolvido naquele mundo.
Me dá vontade de trabalhar na feira!
E, mãos à obra, escrevo meu poema
Impregnado daquele aroma intenso
Que se espalha no ar
Repleto de cheiros exalados
Num montão de cores
Todas juntas e misturadas.
São cores frias, doces, amargas
Cores azedas, quentes, salgadas
Ardentes ou simplesmente neutras.
Dentro de tudo isso, respiro
Bons ares atravesso, absorto
A comer pastel com caldo de cana.
Inspirado nesses cheiros coloridos,
Continuo no engenho dos meus versos,
Sentindo cheiro de laranja cravo pera lima
E tantos outros alaranjados odores.
Não largo o pé da feira, estou dentro,
Livre no meio dessa gente humilde,
Gente com jeito feliz de levar a vida a suar,
A pesar nas balanças Filizolas seus condimentos,
Seus temperos, seus jilós, suas especiarias.
A revender abobrinhas, amendoim,
Descascar abacaxis, espigas de milho, mandiocas
E até ofertar pimenta biquinho e anis-estrelados.
De quebra, ainda se leva dedo-de-moça
Pra atiçar o paladar, abrir o apetite.
Na venda casada, ainda se ganha
Um refresco a escolher de brinde
Ou pode optar por uma malagueta da mulinga.
Comprando uma leva a outra de graça.
Ali há gosto por todos os lados.
Ia me esquecendo do licor de jenipapo.
Olha a laranja, quem vai querer,
Olha a pimenta, vai encarar a moça,
Ou prefere um refresco de umbu-cajá?