sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A CRUZ DO RIO, por João Maria Ludugero


E lá está a cruz do rio,
sozinha na entrada da rua do arame.
Na solidão vive dia e noite, 
depois de tantos sóis,
depois de tantas luas.
Esquecida do mundo, 
só lembrada quando alguém que por lá
passe e pare faça o sinal da cruz,
levando um buquê de flores,
uma oração, uma prece a favor.
Quando o dia finda 
e a noite vem baixando 
na Várzea das Acácias,
lá pras bandas do rio Joca, 
onde a cruz foi erguida, 
canário-de-chão solitário 
canta e dança
ao redor da capelinha, 
deixando lindo o cenário.
Ao lusco-fusco, na penumbra das moitas,
piscam pirilampos ou vaga-lumes,
como que a encantar o vento 
que sopra dentro da tarde amena 
pelo ermo dos campos do Vapor 
brincando e beijando a cruz do rio da cruz.

'TAMOS DE OVÁRIO CHEIO DE VIOLÊNCIA', por João Maria Ludugero


Quando ela nasceu, levou tapas da vida.
Logo se pegou aos berros. 
Valéria aprendeu desde cedo a não ter infância.
Acendeu cigarro e não se engasgou nas tragadas.
Sob os olhos vermelhos da mãe desnaturada  
ignorava os malefícios do vício 
e precoce já pitava seus fumos.
Valéria se criou na rua, abandonada
aprendeu a se quebrar no crack, 
inalando seus frascos de cola 
ali mesmo sob o concreto armado 
do Teatro Nacional de Brasília.
Seu tio a levou pelo braço 
pra rodoviária do Plano Piloto.
Seu tio bebeu com ela toda uma garrafa 
de uísque do Paraguai.
Valéria foi estuprada e acordou grávida 
aos 12 anos de idade.
O que a vida não ensinou à Valéria?
A pensar e questionar sua sorte,
Ou só a impôs em  continuar 
de ovário cheio de violência?

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