sábado, 31 de agosto de 2013

POEMA PERAMBULANTE PELA VÁRZEA A DENTRO, por João Maria Ludugero.

Por onde caminham os meus afoitos passos,
após um breve solavanco tombado em silêncio absoluto?
Destemidas as pegadas deixadas na prata avivada 
do luar escondido por cirros cinzentos, 
amálgamas dispersas, ao acaso da tarde amena,
temperadas pelo extenso e alto olhar de menino medonho,
ou pelo odor intenso do estilhaçado Vapor sem cabrestos,
nos coros repetidos dos cascos de algum alazão de sangue varzeano,
e tem vezes que não sei dos Seixos da inesquecível dona Santina, 
nem das beldroegas que brotam além das margens verde-musgos do Calango,
açude que denota lembranças dos nomes que não desfiguram as coisas.
Recordo-me dos pássaros que não morreram em avoação,
porventura em incontida destreza de contentamento a galope,
enquanto beijava repetidamente a multicolorida alma em flor 
exposta ao decorrer dos arredores da Várzea das Acácias,
sem esconder as visões e as vozes que pululavam sem parar,
dos cavalgares de outrora ainda não desapeados com o tempo,
evaporavas-te pelo fumo do primeiro cachimbo ao vento,
borda fora, riacho do mel a dentro, entre as nuvens espessas 
esfiapadas perto das escarpas que se escondiam pelas passagens 
da ventania ressoprada por escarpados lajedos... 
Por onde te encaminhas se os candeeiros não se apagaram de vez?
O Vapor crepita ancorado à margem do rio Joca,
abatido pelo relâmpago que atrasou a estação da enchente.
Atraso-me para jamais te esquecer, minha Várzea amada!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

CLARO CERZIMENTO, por João Maria Ludugero


E,se não houvesse mais palavras?
Ficaria uma hemorragia de sentidos 
A me perseguir pelo interior... 
É bem sabido pelo alumiar das candeias 
Mirrando a cada ventania,
Dessas de arrepiar até os pelos da venta,
Tão símiles aos grãos de areia do rio Joca,
Dispostos ao Vapor de Zuquinha
Pelo sol a pique da tarde amena,
Que ao conseguir me ninar,
Por entre os juncos e beldroegas
À beira do açude do Calango,
Alerta-me em letras a tecer colorida poesia 
Acerca da chegada dos nenúfares do Retiro
Da Várzea de Ângelo Bezerra, 
Quando a estrela Dalva, de manhãzinha,
Ainda me faz assobiar para acordar os sonhos,
Clareando-me agora-já, de amores,
Dentro e alto, de todas as bandas,
A cerzir meu coração partido
De tamanha saudade sem fim...

OS JASMINS DA VÁRZEA, por João Maria Ludugero.


Se nas asas libertas 
Nascessem sonhos, 
Voaria dentro e alto 
Ao interior de mim 
Até uma clareira dos ariscos 
Com vista para o céu em acordes. 
E perceberia o Vapor 
Que a Várzea em nós se desata 
Em reverdecida esperança 
A me ninar na tarde amena, 
Sem medo da cuca pegar. 
E assim o luar faria por mim 
O recanto ensejo da alma em jasmins, 
Desabrochando em ternas alvoradas 
Depois de tantos sóis, 
Depois de tantas luas!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

NENÚFARES SOB O ACONCHEGO DE BENDITAS PALAVRAS, por João Maria Ludugero.

Das palavras achadas adornadas em poemas,
pintam-se telas suspensas numa sala de bem-estar,
esbugalhando um magote de barulhos lá fora existentes,
absurdos ficam os ecos julgados revelados, tão vertentes. 
Não encontrarei um quebrado lajedo, isso não é para mim, 
nem latente que seja, nem desvelado a contento, 
pelas vicissitudes dos impossíveis temores. 
Já caminho sem medo da cuca pegar, 
não me recolho à míngua sendo cabotino, isto não quero 
nem aspiro escrever assanhado sob essa tisna, 
ciente dos gritos, dos gestos que me revelaste 
desnublando com afinco o Vapor em sobressalto. 
Poder-te-ia imaginar, minha Várzea das Acácias apenas 
numa pausa do olhar, perene o olhar que a te me conduz 
e a mesma voz outrora revigorada depois do estio, 
clamaria em tromba d'água pela vargem aberta 
num reverdecer de lembranças varzeanas... 
E, se não houvessem mais benditas palavras? 
Ficaria este sangue azul encarnado em poesia, mesmo assim, 
mas não como hemorragia que nos persegue o coração adentro. 
sei-o pelo desfalecer das velas encandeadas mirrando a cada ventania, 
tão símiles aos grãos de areia secos pelo sol a pique, 
a correr dentro e alto ao rio Joca, após o meio-dia... 
Alerta-me da chegada dos nenúfares perfeitos, 
desatados com almas em flores multicoloridas 
quando a manhã me acorda os sonhos por dias melhores. 
Clareia-me o hoje afora, traduzido em esperanças novas 
a buscar outro alvorecer, depois de tantas luas 
prateadas pelos arredores da Várzea de Joaninha Mulato...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

ATÉ ASSANHAR OS PELOS NA VENTA, por João Maria Ludugero.

As vezes quem não tem nada,
Faz a trança e desfaz o labirinto,
Agita os redemoinhos à torta e à direita,
Sem pegar medo na cuca...
Só de manjar, se atrelam 
A esfiapar bichos nas nuvens,
Gritando a prova dos nove, 
Assobiando as letras em literatura
E até assanhando os pelos da venta.
Os que mais levam vida dura,
Se atiram à ventania da estrada
Dando ponto nos quebra-queixos,
Atiçando os puxa-puxas, eira e beira.
São os que a gente não sabe
Aonde é que na alma cabe
Tanto amor tanta ternura!

domingo, 18 de agosto de 2013

POEMA AMAR/ELO, por João Maria Ludugero.

Ao amanhecer,
Cantarei um canto de glória
Ao meu amor que renasce…
Beberei a poesia como néctar de pitanga;
Observarei o sol radiante ao imenso Amar-Elo
E brotarei a alma em flor de cajá-manga...
Ao entardecer,
Tomarei doces goles de laranja...
A me ninar na tarde amena.
Ao anoitecer,
Cantarei uma toada estrelado,
Assim emendarei o amor com afinco 
A inteirar meu coração partido…
Derramarei lágrimas alegres,
Sobreviverei para ver o amor tecer a dor
E dourarei doses de ânimo 
Prestes a cancelar as bulas..
E estarei pronto, iluminando a cura,
Para dar uma acertada rasteira 
No desesperado medo da cuca.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

AMIZADE SINCERA, por João Maria Ludugero.


O tempo chega no vai-e-vem,
No balanço da praça
Do encontro 
Das quatro bocas...
Os anos marcam
Seja na face, corpo,
Em sua mente reverdecida:
Seja no cantar de cada Parabéns!
E também quando chega uma época 
Em que não se quer dizer mais a melhor idade.
O engraçado, é que o inverso também acontece:
Tem gente que se renova, como fênix renascida...
Parece que os anos voltam:
Se sentem mais soltas, contentes como crianças 
Ao ganhar o brinquedo que almejavam.
Outras tantas, remoçam de verdade.
Apesar dos aniversários advindos,
Essas têm cheiro de flor na alma,
Asas de anjo, sem os dentes de antes,
Mas continuam doces como mel.
Pois se vertem no chão de dentro a ocupar sopros de amor:
Onde repassam, renovam também aqueles que estão à sua volta.
Pois cativam com seu carisma deixando quem está do lado,
Com jeito de cravo e rosa a florir também,
Pelo menos por algum tempão de todos os lados...
As amizades assim são muito bem-vindas!
Colorem nossas vidas, dentro e alto,
E não nos deixam esmorecer ao desânimo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ONDE ACHAR UM AUTÊNTICO SORRISO? por João Maria Ludugero.

Ganhei o meu sorriso naquele caminho do riacho do mel
que não chegou ao meu horizonte de esperanças novas. 

Procurei nos Seixos, escondido entre os juazeiros, 
no casebre indeciso que o sol abrigou no lajedo...
Até na poeira da estrada gerada 
pelo paradeiro que a ventania arrastou…
Mas o sorriso bem que se mostrou, escancarado.
Encontrei, no corredor da casa de farinha, 
um papel amarrotado pelo tempo ao desvão
que me foi atirado para um canto da imaginação, 
de um lado tinha escrito um acorde de sonhos,
do outro tinha a palavra saudade de dona Santina… 
Voei inteiro até fora da asa pela lembrança a correr dentro…
Mas do sorriso, ainda vivo, ele me deu notícias! 
Derramei o olhar sobre uma janela aberta ao sol,
transbordei os sentimentos no interior das manipueiras, 
Mas os olhos estreitaram-se na palavra incerta, 
escondida no frasco onde a rosa seca se esbugalhava,
chorando de mágoas numa cela de arame farpado, esvaída! 
Mas o sorriso pujante…ainda não encontrou saída! 
Tomei, então, a liberdade de me agarrar no pó dos dias, 
espalhado na estrada abandonada e no vento dos jasmins, 
essência da pouca vaidade do ser, acocorado nas ramagens das árvores, 
eu refiz meu ninho de sol entrançado pelas águas do açude do Calango... 
E quando o pintassilgo da razão se aninhou no bolso de trás 
das minhas desgastadas calças de algodão, tomei conta do passo,
encontrei o sorriso na vontade contente à solta, 
na face exposta de um eterno menino varzeano, jamais cabotino,
que se cura, apesar das medonhas estripulias extasiadas ao lume
deste ser arteiro poeta que ama de paixão sua Várzea das Acácias...

MÃE, QUE SAUDADES DE TI, DONA MARIA! por João Maria Ludugero.

Jura-me de uma vez por todas,

Eu ainda quero bem-te-vizinhos na nossa janela, 
Brisa primaveril acordando as cancelas do quintal, 
Cheiro de cuscuz de fubá de milho zarolho ao leite,
Sobressaltando as minhas narinas à ventania
Ou o cheiro do bule de café na mesa da cozinha
Repleta de bolachas regalias, soldas e sequilhos,
Lembrando-me que as nove horas teriam um fim.
Prometias-me:
A tua mão na minha mão; 
O teu cafuné na minha cabeça,
A tua cantiga que me acalmava 
Até espinhela caída em algaravia...
Tua canção que me ninava,
Teu beijo que me consolava,
Tua palavra que me animava...
Mas que saudades de ti, dona Maria!

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