sábado, 17 de novembro de 2012

O PERFUME QUE FICA, por João Maria Ludugero




Ora as palavras me inspiram 
Vou direto ao teu jeito de flor
À flor da pele num afago 
Viajo em teu perfume 
Aromatizado, embeveço minha alma 
E sigo incansável num evolar afoito 
A captar no ar a tua essência 
Etéreo me inteiro, recomponho os vãos, 
Antes mesmo que o frasco aberto se evapore 
Antes que o vidro, 
Mesmo vazio, perdure ou se quebre,
Passando a insistir com teus cheiros, 
Não hesito, divago 
Em tua fragrância, consentido, 
Corro dentro do cérebro extasiado, 
Quase como um sopro sobrenatural 
Feito algo assim sagrado 
Dentro do ser belo 
Como um meio sublime 
De comunicação com o divino. 
E de tal sorte, mergulho profundo 
Num voo rasante, sem fadiga
Nem receio de que tua essência exale e acabe, 
Ainda que só me reste um cheiro de jasmim, 
Procuro manter a calma, 
pois bem sei que embalagens servem 
para guardar recheios, 
Frascos guardam perfumes 
E corpos são recheados de alma!

PINTANDO POESIA: MEMÓRIAS DE UM MENINO DE VÁRZEA, João Maria Ludugero

Um magote de meninos traquinas
Em guerra de mamonas
Caldo de cana caiana, garapa 
Craúna chupando dindim de coco queimado
Xibimba coçando o pé na calçada da igreja,
Bichos criados soltos pela Vargem,
À margem do rio Joca, o coqueiral,
Carro encantado à beira do Vapor,
Picica chupa pitomba e assa castanha de caju,
Moleques levados da breca batem uma pelada,
Vira de Lucila raspa a quenga de coco
Pra misturar com rapadura batida,
Carmozina prepara as espigas
Para fazer bolo de milho verde e soldas.
No pilão, Marinam de Lica 
Prepara a mandioca-mole 
Para incrementar o bolo-preto.
Matadouro, rua da matança ao entardecer,
Jesus de Beija espicha o couro no curtume,
Cícero Paulino salga as mantas
De carne-de-sol à sombra...
Faz um tempo bom na Várzea.
Q-bom,
Q-boa,
Q-broa,
Q-suco,
Garapa no bar de Biga,
Bater de tambor no terreiro de Ana Moita,
Reza, benzedura, cura de quebrantos.
Um jegue rumina na praça,
De encontro à vida mansa, 
Mula empacada na feira de domingo.
A lua aparece mais cedo feito tapioca
toda granulada no céu de São Pedro,
Desce até à graça do recanto do luar...
Terezinha do Couro debulha feijão- de corda 
Balaio de mangas de dar gosto só de ver
Abracadabra,
A vida segue pacata sua mágica
No muro das ideias achadas em poemas.
Armazém de Virgílio Pedro, tem-de-tudo, 
Dispensa indispensável, mercadinho
Trampolim fígado e rins, carnes, queijos
Farinhas, fubás, ararutas, trigos, 
Manteigas de garrafa, banhas, óleos e querosenes.
Marchantes destrinchando bodes,  
Gritos estridentes de porcos na casa de Zé Baixinho,
Saudades das raivas e carrapichos de dona Zidora,
Saudades de Seu Antonio Ventinha  e dona Rosa,
Saudades de Seu Geraldo Bita Anacleto e dona Nice, 
Quadrilhas juninas, anarriê com engenho e arte.
Caldeirada de mocotó, caranguejada 
Picadinho, passarinha e tripa assada
Bar do Maninho Eduardo, sinuca, 
Ovos coloridos, galinha caipira, farofa
Vitamina, mungunzá, arroz-doce e cerveja gelada.
Saudades da velha canção que Maria oferece a João,
Direto da amplificadora do mercadinho central
Colcha de retalhos, fuxicos de dona Neves Mulato,
Saudades de Nina e da Do Carmo de madrinha Joaninha. 
Diga lá às quatro bocas que já me vou, 
Mas na saudade fico!

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