sábado, 6 de setembro de 2014

A VÁRZEA DO MEU POEMA, por João Maria Ludugero

 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
A VÁRZEA DO MEU POEMA, 
por João Maria Ludugero

A Várzea assim como os deveres de casa tem lida
e vargens lisas ou esbugalhadas,
e Calango (isto é açude) e riachos
do Mel e Umbu de cajus, cajás-mangas e jasmineiros,
além do Maracujá da Marisa de dona Melisinha
e do feijão-verde no sítio de Seu Tida.

E tem histórias da carochinha, lenda da mulher que chora,
as mais singelas aventuras da Várzea de Ângelo Bezerra,
daquelas de arrepiar ou assanhar até os pelos da venta,
que se podem ver na seara do Vapor de Zuquinha Ribeiro:
no agave, nos ingazeiros, nos mulungus em flor
e até mesmo no limbo dos frondosos juazeiros.

As matas são vastas áreas ensolaradas,
repletas de sapos cururus, jias e maneiros caçotes no rio Joca em nado,
e até há verdejantes laranjeiras, beldroegas, juncos e marmeleiros,
com sabiás, canários-de-chão, libélulas, anuns e galos-de-campina
além de um alpendre a dizer: «seara do carro encantado».

É evidente que na época fora do estio
Bem se pode plantar com entusiasmo,
no teu campo, jerimuns, maxixes, milho, feijão, fava,
Gergelim, quiabos, mandiocas, batatas-doces e melancias.
Para começar a cultivar os canteiros, traçar os leirões,
basta lavrar a terra e dispor dos grãos
e das manivas das macaxeiras.

PELAS TRILHAS VARZEANAS, por João Maria Ludugero


 
 
PELAS TRILHAS VARZEANAS,
por João Maria Ludugero

A nossa Várzea é uma seara de verdejantes juazeiros, provavelmente, não se esquece de lembrar desse refúgio do interior colorido aquele que ora mora longe do agreste verde… Lá está nossa Várzea, hoje vista pelo mundo, a correr dentro e alto. Ela continua com as suas cores, do alvorecer até o lusco-ofuscado laranja da tarde amena que me nina…

O lugar tem cores que se acham quase todas a partir das quatro bocas da lida. Se a Várzea fosse cega desfrutaria dos cinco sentidos. Olfato, tato, audição, paladar, visão. Se eu fosse cego…cheiraria o mais intenso dos perfumes, sentiria o gosto da água, tocava a mais leve das penas e ouviria a mais breve melodia do tô-fraco dos guinés à cantiga daquele pássaro ao amanhecer do dia.

Se a Várzea das Acácias não fosse meu pedacinho de chão, eu não passaria de um esbaforido pardal ou de um sanhaço só pelas rotas do Retiro de Olival, mas eu sou aquele menino João maduro levado da breca, um bem-te-vizinho astuto e canoro a singrar além do paredão do açude do Calango, esforçando-me para sentir, para ouvir, para conhecer, para não se perder pelos meandros do chão-de-dentro, da Forma aos potáveis Ariscos, elevando-me dos Seixos à Lagoa Comprida, do Gado Bravo ao Itapacurá de Tio João Pequeno…

A VÁRZEA DO MENINO MEDONHO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
A VÁRZEA DO MENINO MEDONHO,
por João Maria Ludugero



Oh, menino varzeano,
Cabra levado na lida,
Que foi astutamente guiado
Nessa infância vaporizada.
Garoto que entende de tudo,
Rolimãs, joão-redondo,
Ludugero levado da breca:

Algum dia viu anum no juazeiro,
Mulungus, jasmim-manga,
Dama-da-noite, beldroegas?
Já sentiu a dor que a ávida roça
Injeta no desafio de uma enxada?
Então, não sabes que o pastoril
Nascia em bornal de Joaquim Rosendo
E o boi-de-reis era embolado
Pela ginga colorida de Mateus Joca Chico,
Que se não mexesse na massa de mandioca,
Bem depressa, a manipueira não escorria?
Com que boneco de mamulengo em João redondo
Seu Pedro Calixto esbanjava alegria
Pelas quatro bocas da rua grande,
Onde um magote de meninos medonhos
Burilava o furdúncio nas quadrilhas de Seu Bita?

Sempre ia saber de Antonio Ventinha
O que era torresmo, tripa assada e sarapatel suíno,
Sequilhos, soldas e brotes de araruta de Carmozina,
Bolo-preto, puxa-puxa, raiva e carrapicho,
canjiquinha de dona Zidora Paulino,
Sem se queimar com grude de tapioca
Numa tigela de farofa de carne-de-sol
Num tacho de fogão de lenha, a paçoca
Feita na batita do pilão junto com cebola-roxa,
Além do gostoso cuscuz de fubá de milho zarolho,
Espiar Zé Miranda não fugir de zangão zangado,
Nem de cobra dos Ariscos de Virgílio Pedro,
Nem do gado bravo além dos Seixos!

No olhar do sol amar-elo a ver as onze-horas
E a estrela Dalva da madrugada
Se espojar dentro da aurora bendita
Após as benzeduras de Ana Moita,
Numa Vargem de capim, mata-pasto e juncos
E se largar ruminando na tarde amena que me nina
Num degustar de coalhada, leite cru, espuma e orvalho.

Deixar a roça criadeira dos galos-de-campina
Te penetrar viva seiva em néctares,
Sabendo lavrar a terra com vida,
Sentir a seara no cio, sem coivaras,
Germinando vivência em bons ares
Dentro e alto do agreste verde...
Rico menino que sempre
Pôde ser irmão do rio Joca!

Saber que ali tem um riacho do Mel,
Segredando à beira do rio de Nozinho,
Abeirando-se em tantas confidências,
A rolar de sentinela toda a infância astuta



Espairecido em cantiga de bem-te-vizinho.

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