segunda-feira, 12 de novembro de 2012

PRIMA VERA, por João Maria Ludugero


Brincando, ela me tirava do sério
Chamando-me pra brincar de fugir do tédio 
De correr pela capoeira até chegar ao Vapor,
E escorrer, afoitos a escorregar 
Num banho de bica lá no rio Joca.
Ela moça, linda, morena, brejeira
Cheirando a doce de leite, airosa,
Tão bem vestida de chita, cabrita,
Tão bonita minha prima Vera,
Tão gata, gaiata, manhosa, 
Turbinada, com um decotão 
Desses que valha-me Deus!
Dava  para ver o umbigo de fora
E me deixava de joelhos a rezar, 
Sem pecado nem juízo, contrito, 
Mas, justo eu que nunca fui santo,
Não me cansava de dançar ao vento, assanhado,
Com a brisa na cara, com gosto de ser contente,
A uivar meus sonhos acordados de moleque, 
Louco por roubar um beijo desses de acender
Bundas de vaga-lumes e estrelas,  
Vendo a prima vera solta a cirandar só pra mim,
A pagar peitinho esquerdo, à torta e à direita...
O danado a escapulir e ficar com o bico 
Todo de fora do benevolente decote.
E o sol aureolado, ao lusco-fusco a se deitar na tarde amena,
Enquanto eu, bobo que só vendo, queira acreditar! 
Deleitando-me, doido pra ver aquilo tudo fora do lugar.
E, por derradeiro, meus olhos agradecidos 
Haja vista aquilo tudo ter valido a pena... 
E como valeu a graça de ter perdido a compostura.
Não tem preço nem vergonha essa dádiva.
Só arrependimento tarde é que perde a validade!

CHORANDO AS PITANGAS, por João Maria Ludugero


Que tempo bom aquele
em que éramos moleques
e ganhávamos o mundo 
a colher o dia, a buscar frutas no Maracujá. 
Era bonito ver os arredores do sítio 
avermelhados de pitangas, 
encarnados de cajus bicados 
E o bem-te-vi cantando 
como que a anunciar o entardecer. 
Quando a prima Vera trepava 
Nas árvores para derrubar as frutas 
Eu ficava no chão de bochechas ardentes 
a subir os olhos curiosos, arregalados, 
e gostava de espiar e mirar às escâncaras 
a imagem dela de baixo para cima... 
Ela gostava de ir alto a catar os frutos 
destemida, não estava nem aí 
para alguma preocupação. 
E, às vezes, berrava: 
Estais pisando nas pitangas... 
Agora lembro com saudades 
da prima Vera a apanhar as pitangas... 
A pitanga, além da doçura da fruta, 
É uma palavra sonora, cantante e musical 
E tem tudo a ver com a gostosura, digo sem titubear, 
de dar água na boca mesmo, quando a prima Vera 
escalava a cúpula das pitangueiras... 
E eu ficava nas nuvens, de mãos cheias, 
chorando as pitangas, mas de contente!

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