Meu coração não tem medida certa
É bem maior que meu punho fechado.
Ele sente mais do que pesa...
E cresce em meu peito
Querendo sair pela boca
Como se estivesse doido pra ganhar o mundo
Como se fosse imortal, num voo rasante,
Mesmo em se falando de fim do mundo...
Ele prevale arteiro, medonho que só vendo,
Ele sorri do tempo e ainda desenferruja suas catracas
Prestes a mover as pétalas da rosa-dos-ventos.
Meu coração sangra no peito feito um açude
Cheio dando vazão aos olhos d'água dos rios,
Riachando-se afluente a transbordar sobre todas as coisas,
Sobre o bater incansável dos cascos das horas
E sobre a voracidade franca dos meus dentes.
Meu peito é feito um nicho sagrado
Assim sem portas, janelas ou trancas
Apropriado a libertar pássaros
Que não se prendem no meu coração,
Que é maior que um punho fechado.
Um punho, um murro, um correr dentro
Do tempo que não acusa o golpe que desfiro no ar.
Ele ainda me faz sonhar acordado,
Ainda me alerta a enfrentar pesadelos,
Mantendo os olhos fechados
Só um bocadinho para descansar
E esperar o tédio passar ao alvorecer
Da minha Várzea das Acácias,
Com seus sons suaves vindo dos ariscos
Como um riacho canoro do agreste verde.
Meu coração é mesmo assim tão-tão grande
Que não tem cabimento numa só mão
Fechada. Seria necessário um punhado de mãos
E ainda assim ele escaparia,
Por ser tão levado da breca
E não se deixar apanhar
Pelo laço do passarinheiro.