segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

MARIA-QUE-NÃO-VAI-COM-AS-OUTRAS, por João Maria Ludugero



Quando ela nasceu, 
vingou tão miúda 
que até se achava não ir muito longe.
Canelas finas, patativa baleada, 
mau feitio, mas parecia uma sebite. 
Foi tomando jeito, 
mesmo com cara de tô-fraco-de-angola. 
Franzina, ninguém dava nada por ela, 
um arremedo de gente, pele e osso. 
Foi crescendo meio que desengonçada, 
menina trombuda, ganhava todas 
jogando bilocas com os meninos. 
Desaforo nunca levou pra casa. 
Nariz empinado. Dona de si. 
Dura na queda de braço.
Não a tirassem para briga, 
era a mesma coisa de fazê-la 
correr dentro da arenga. 
E o tapa comia um dobrado. 
Quebrava o coco e ainda raspava a quenga. 
Nunca chegou em casa apanhada. 
Era mais fácil fazer um galo no cocuruto alheio. 
Da cuca nunca correu. 
Nem do bicho-papão. 
Coitado do papa-figo. 
Trazia o bicho no laço, sem alvoroço, 
e era mais fácil papar o bicho em sua mão. 
Na Várzea, impunha respeito, 
peitava a quem lhe olhasse torto ou só pelas costas. 
De banda, há quem lhe chame de arrogante, 
mas não leva em conta disse-me-disse. 
Ela logo chama na chincha e às claras. 
E ai de quem se atreve 
a lhe encarar os pêlos na venta. 
Há até, pasmem, quem lhe chame 
de Maria-Homem. 
Eu lhe chamo, apenas e só, 
de mulher-coragem, 
dessas que cospem fogo pelas ventas,
dessas que comem o fruto 
e ainda roem o caroço!

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