quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ELUCUBRAÇÕES EM LETRAS, por João Maria Ludugero

ELUCUBRAÇÕES EM LETRAS, 
por João Maria Ludugero


Quando perco o sono, 
Quando me sinto a perambular 
A andar pela casa a divagar
E as pálpebras me secam os olhos,
Eu não deixo a noite me passar em branco. 
Logo, lúcido aciono meu louco pincel de poeta.
Eu acendo todos os sóis, deixando a luz entrar. 

Adentro no ânimo das palavras 
Dando-lhes cores, como quem pinta.
Busco engenhá-las ao próprio contorno
E até dou-lhes outras estampas.
Sou peregrino das letras, 
Não me canso de ser assim
Eterno aprendiz na lida, 
Ora varo o mundo, de sentinela. 
Ora ele me engole, de súbito.
Mas tenho um coração que estala
Num bater de cascos incansável, acordado.

O que me faz avançar o passo, o que me salva,
O que dá azo às letras que alinho,
Reavivando as palavras que engendro,
De certo, é mesmo ser feito 
Este prisioneiro em liberdade.
Assim aprendi a escrever Amor. 


Foi como andar de bicicleta,
Nunca mais me esqueci do ensinamento.
E nessa toada, eu canto e danço a brincar
Com versos que me abrem belos horizontes.
E, melhor, não me trincam os vidros das janelas.


E assim me oriento eu comigo mesmo,
E consigo.E até me encontro no espelho, 
Num modo de sair da solidão
Que um espírito tem no corpo.
Sim, eu acredito no corpo.
Eu medito, penso, pondero.


Eu maturo, eu recrio e até me desnudo a rigor
sem ultrajar o uniforme vocabular, 
para dedicar-me com afinco
Ao repouso intelectual 
Só para, mãos à obra, mostrar 
O encontro da matéria táctil 
A primar com o espírito, 
Numa simbiose sem fim. 
Trabalhando à luz, de frente 


De noite, sem medo eu me adenso, pro verso 
Numa tensa e intensa vigília, 
Sem os apetrechos da subordinada oração, 
Com ou sem rimas, desfio meadas, 
Conjecturando palavras coordenadas, 
Especulando ganhar eiras de um mundo novo, 
Não me desespero, ainda acredito, 
Costurando meus verbos e atitudes.


E é por tudo isso que me perco
Em coisas que, para os outros, 
São migalhas. Transeunte eu divago,
Eu me acho nelas, quando tudo parece ao descaminho.


Quando me atrevo a escrevinhar, alumio-me na fonte.
Por isso eu navego, sóbrio, de olho aceso,
Nas boreais madrugadas em claro.
A Poesia tanto me faz levantar os pés do chão 
Que até levito, fascinado me acho a andar descalço,
Num chão em brasas e não as sinto, 
Até na trilha mais incerta e mais erma,
Não me perco nas bermas do caminho.


Mas se me perguntarem o que é ser poeta,
Eu diria, de pronto, sem titubear na dúvida:
Ser poeta é mesmo uma bênção.
É ter o dom de ter/ser vida em transe
Até na natureza morta!

EU-DESNUDO, por João Maria Ludugero

EU-DESNUDO,
por João Maria Ludugero.

Desnudo,
eu ficava inteiro na janela.
Não havia nenhuma vergonha 
a cobrir meu corpo de amarras.
De frente e de verso,
de todos os lados,
eu me via no espelho 
que se abria frente à solidão da rua.
E tudo mais o que advinha 
abundava na beleza da nudez
que vinha de dentro,
que saía da moldura do quarto
e ganhava o mundo além das persianas,
de fora pra dentro, vice-versejando, 
onde me banhava o sol,
eu-menino de lua ou de chuva 
sob a luz do olhar travesso
que era imensa, ardente,
tão intensa assim 
que me achava a rutilar,
botando no chinelo a vida medíocre, 
libertando-me das algemas do que era ser feio.
Entrementes, nos parênteses vãos 
do pensamento, eu corria pela lua branca.
E seguia rente às estrelas, seguro de si,
sem pré-ocupação com as verrugas 
que se alastravam pelos joelhos 
quando, borboletando o horizonte,
a inocência me criou encantos e sonhos 
acordados no quarto do por-enquanto, antes do já cresci,
quando ainda não tinha vergonha de estar nu
a coçar a bunda na janela, a se enxergar 
de tamanha vontade de ser eu-mesmo,
perfilando a poesia exposta
que já morava em minha boca,
a me limpar a vista ao verbo escrito 
por me achar desnudo, atrevido,
ao me tocar a avidez da pele o lume,
sem mais turbar a mente de prontos costumes,
conhecendo as maçãs ainda verdes, 
sem receio de ser expulso de vez
do paraíso.
É consabido que há corpos 
que se encharcam de medos
que se recriminam por sentir o gozo,
que certamente não se tocam,
por não perceber,
a nudez da alma...
Aqui exponho a minha nudez, 
que vem de dentro, liberta e sem tarjas.
Porque teria vergonha de ficar nu,
se a vida me fez assim aceso poeta?

CONCLUSÃO, por João Maria Ludugero

CONCLUSÃO, por João Maria Ludugero.

Sem cubar a lida,
Jamais acabarão com o amor,
Nem as rusgas, nem os quebrantos,
nem a distância sob o liame a correr dentro
Da saudade atroz...
Está provado, idealizado,
Verificado, a contento.
Aqui levanto solene de vez
Minha estrofe de mil credos
E faço um juramento:
Amei com a firmeza fiel
E sem cera, sinceramente!

BENDITO FRUTO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BENDITO FRUTO,
por João Maria Ludugero.

Pitangas, umbus, laranjas, 
Cajás, cajus, jacas, amoras, 
Maçãs, limão, melão, melancia, 
Ó cantiga de meus sentidos, 
Pura delícia da afoita e astuta língua 
A se esbanjar no céu da boca; 
Deixai-me agora provar 
Do fruto que me anima, 
Pelo sabor, pela cor, pelo néctar 
pelo aroma das sílabas a dentro: 

Mexerica, laranja-lima ou tangerina! 

BRASÍLIA ALÉM DE SUAS FLORES, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA ALÉM DE SUAS FLORES,
por João Maria Ludugero

E para acabar
com a pasmaceira da mente,
para adornar a alma da gente
a natureza tem por hábito
fazer brotar com toda força
ipês amarelos, roxos, brancos e rosas
Além de flamboyant's e quaresmeiras, 
Tudo brilha a seu tempo,
sem que um venha
a furtar a cena do outro.
E essas cores se abrem no cerrado
do chão aos céus de Brasília,
envolvendo plena visão de beleza.
E a questão de cores não incomoda,
apreendê-las não complica.
Leva-nos em silêncio
ao encontro da paisagem armada,
além do concreto
do que é simples, bom e belo.
E a gente não cansa de ver os ipês,
apesar da ligeireza de sua florada.
Mesmo assim, muitas criaturas
não percebem e se acomodam numa sorte vã
ao levar a vida sem se deixar observar,
soltar-se às coisas simples,
só se apegando a ter o que todos têm,
de olhos fixos nas medidas exteriores.
Quando o bom da vida
é se deixar entranhar,
afinar os sentidos
para provar por si mesmo
que o maior dos desafios
começa a partir de dentro
para o alto, como a maravilha
dos flamboyant's, quaresmeiras e ipês floridos!

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