domingo, 2 de fevereiro de 2014

VARZEAMADO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 


VARZEAMADO,
por João Maria Ludugero

Acho que já me vou sair a andar por aí e fingir que nem me vi...
Se alguém perguntar por mim, vou dizer que me vi por aí.
Quero dar um tempo de mim, me desprender de faz de conta,
Renovar minhas esperanças pela trilha dos achados, 
Sem medo da cuca me pegar destemida e avassaladora
E tão logo me causar reais e magníficas loucuras; 
Se me virem por aí, digam que eu fugi, fui passear no beleléu
Montado na tal da burrinha da felicidade, com o fito afoito
De ir a um açude ou a uma potável cacimba do rio Joca
Apanhar água com uma peneira... porque eu consigo chegar lá...
Ouvindo a cantiga das horas, desbragadamente fora do laço
Do meu coração passarinheiro...Livre, leve e solto, a correr dentro.
Se alguém me ligar, perguntando de paradeiro, se fugi desvairado…
Ah, direi apenas que me perdi num vendaval pelas quatro bocas,
Que me elevou a chupar manga num arisco canteiro dos Seixos
Bem aonde Judas perdeu as botas, graças a Deus!



VÁRZEA-RN: UM PASSADO QUE NÃO SE FOI, por João Maria Ludugero

  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


VÁRZEA-RN: UM PASSADO QUE NÃO SE FOI,
por João Maria Ludugero.

A saudade me faz lembrar das andanças
De uma Várzea das Acácias de Joaninha Mulato,
Seara potiguar banhada pelo rio Joca.
Recordo-me dos meus chinelos de outrora,
Das minhas antigas bolas dentes-de-leite,
E das minhas antigas canelas finas.
Rico o estalo que me anima, e até
Emite cantiga quando versejado –
Este não é só singelo estalo que uiva;
Quando me agita é o que muito me contenta,
Ao me enveredar pela Várzea
De dona Sule e de Seu Nezinho.

O cheiro do cajá-manga do sítio do Maracujá
Invade o meu paladar e me eleva o apetite
Junto de si para tantas delícias e temperanças
Que me ensejam a bons ares aos pulmões;
Vejo as lascas de cana-caiana pelo chão de dentro,
E caindo novamente sob o interior dos Ariscos
De Seu Virgílio de Dona Eugênia Bento.
Este aroma que cobre a Várzea,
Dentro das casas, tem cheiro de beiju de coco,
De brotes e sequilhos, de doces de caju,
De bolos pretos e de fubá de milho zarolho
E das tapiocas nos tabuleiros de dona Zidora Paulino,
Dona Sinhá me pegava num abraço apertado
Naquele ontem muito distante,
E me sustentava quando eu ia cair.
Ela me brindava com doces cocadas e canjicas
Além de fazer puxa-puxas de rapadura e quebra-queixo,
Sem esquecer das soldas e regalias de dona Carmosina.

Previsível era o dentro da minha casa,
Na lembrança ela era viva e presente,
Enquanto não tinha as fotos, as brasas
Para manter o meu furor pela vida em estripulias.
Abrir aquela porta e não encontrar dona Maria Dalva, minha mãe,
Já não me segura as lágrimas e choro as recordações de outrora;
É coisa deste presente aqui, e agora fico nesta rede que
Tanto me acolheu quando na Várzea de ontem eu estava.
Dona Maria Dalva, minha grande amiga;
Ela acolheu tanta gente além de mim.
Não cobriu as amantes,
Não afundou nas surras,
Não impregnou a sujeira,
Mas me renovou em esperanças.

Era um menino levado da breca e agora, um adulto.
O recinto, porém me assustou, sem a presença dela.
Os olhos nos quadros, nos retratos da estante me seguiam
E relembravam todos aqueles que eu não via mais.
Sentia aquelas órbitas dantescas e macabras,
Que antes eram amadas por mim, me seguirem como se fossem
Berrar por auxílio. Não podia ajudá-las.

Rodopiei nas minhas órbitas e me apoiei com afinco,
Na parede da sala-de-estar, sem mais ela estar por ali.
A sua ausência era fria. Era sólida. Engoliu-me;
Aclivei pelos corredores para chegar às imagens de Santos,
Dos anjos-de-guarda e de Deus de sempre;
Cheguei ao meu quarto. Vislumbrei as paredes caiadas de branco,
O abrir da porta foi o ontem, e me transpassou para os brinquedos,
Os livros, a pintura, as roupas, as janelas, o assoalho...
Era eu brincando a correr dentro daquelas lembranças
Da juventude e da velha infância;
A meia-idade era minha agora (talvez, um pé na velhice).

Olhei para as coisas – Ficaram encardidas, mas eu não me encardi.
Sentei-me ao lado das lembranças e passei a con/versar com elas.
Elas me contaram um bocado de algaravias, dessas de quem não viveu
Enquanto eu estive entretido em ficar tão longe;
E sobreveio um estalo, um acanhado e esquisito estrondo,
Mas que me deixou o peito todo troncho e o coração partido.
Senti um grande alarido, desses de menino chorão...e chorei.
Mas protegido, abracei o meu assanhado amor de outrora,
Abracei o passado, e me enrolei em lembranças à míngua.

Adormeci, acordado em sonhos,
Mas algo me chamava e invadia;
Não era a poesia propriamente dita.
Eram as sobras dos recordares que me procuravam,
Avistavam e me preenchiam, apesar dos tais pesares,




Inteirando agora e para sempre todo o meu reencontro.

VÁRZEA-RN: PELAS RUAS DAS ACÁCIAS DE SÃO PEDRO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VÁRZEA-RN: PELAS RUAS DAS ACÁCIAS DE SÃO PEDRO,
por João Maria Ludugero

Paradeiros da Várzea das Acácias.
Cai a tarde amena que me nina 
Sob as madeixas do arrebol
Com um azul de nuvens esfiapadas,
E a noite, enluarada, enroscada ao sol.

No fio da meada do meu olhar além do horizonte,
Eu, poeta, amante desse pedaço de chão potiguar,
Guerreio da paz e do amor, solto diante da sentinela 
De São Pedro Apóstolo, desponto as memórias da lida, 
conduzido ao crepúsculo que se esconde sob o açude do Calango.

Aceso, o céu lembra um cenário varzeano,
Saudades balançam nos anéis da estrela Dalva,
Ala do encanto, ala ao mundo interior do poeta João Ludugero.

E o instante é de ouro. Corre, escorre pelas veias vertentes...
E as estrelas são arteiros meninos levados da breca
Que ostentam candeias revigoradas de ávidos lumes 
Em redor dum palco que se alastra a ganhar o mundo
Desde o sítio do Vapor de Zuquinha!

Minhas Flores desabrochadas

Visitantes do meu Jardim

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