sábado, 9 de junho de 2012

GENTE RICA SEM SE DAR CONTA, por João Maria Ludugero




Até parece que foi ontem...
Como num folguedo de rua
no final do dia, um magote 
de meninos acendia rojões e traques 
na fogueira de achas 
no terreiro de dona Alice de seu Abílio 
bem próximo ao beco de dona Neda, 
que baforava seus fumos 
num respeitável cachimbo 
pra afugentar as muriçocas. 
Antonio Horácio já fora se deitar 
a se balançar na rede de algodão, 
onde até os remendos alinhavados 
mais pareciam arte que necessidade. 
E toda rua do arame se punha a cantar, 
até mesmo aqueles que não sabiam cantar, 
caíam na dança improvisada de arrasto 
com as meninas faceiras vestidas de chita, 
e na gandaia dos meninos travessos de calças curtas. 
Ao passo em que seu Cícero cego dedilhava a sua sanfona 
num forrozeado de lascar o cano, de relar o bucho, 
de levantar a poeira do chão batido da rua do arame. 
Outros contavam estórias, riam, cochilavam na paz 
após degustar as guloseimas, doces e pitéus de dona Sinhá... 
E a gente se sentia tão rico, e com tão pouco fazia a festa. 
Mas o que era ser rico mesmo? 
Isso não importava, não se dava conta, 
pois a gente se misturava contente, 
de barriga cheia, de alegria, de pronto 
agradecia a São Pedro por aquele estado de graça interior. 
A gente era humilde sim, mas podia sorrir de verdade, 
tão simplesmente aquela paz cabia na rede de dormir. 
Até parece que foi outro dia...


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