CIRANDEIRO
Autor: João Maria Ludugero
Há uma fogueira no meu peito
Há uma Várzea acesa dentro dele
Há um coração em dia
De festa na rua grande
Há folguedos e bandeirolas coloridas
E a gente nem se preocupa em arriscar
Marcando o passo de ciranda em ciranda,
Até lá no rastapé, no relabucho
Da rua do arame, a gente faz o mundo
Girar à beça, e rodopia, sem pressa
Ensaia cantigas de roda de encantar.
E ao dançar, a gente contente dança
E aprende a dar rasteira na tristeza,
Espanta os males, canta a reza,
Inventa bolas de qualquer coisa
O importante é jogar por jogar.
A criançada ainda aposta em brincar
De cabra-cega, de pique-esconde
De pimentinhas a pular cordas,
De teco-teco nas bolas-de-gude,
De corridas-de-saco, sem perder as bilocas,
De corridas-de-jegue, sem pensar nas agruras
Da vida que escorre por entre nossos dedos
Ao volver com a mão essa água salobra
Que derrama doçura na salada mista
De inocentes beijos, fazendo a cabeça da gente
Seguir mais leve mente, ao encher o peito de paz
De uma paz que de tão autêntica não tem nome,
Que só existe nesse lugar, tão enorme que só sentindo.
Então por que não vir aqui cirandar?