sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

MINHA VELHA INFÂNCIA, por João Maria Ludugero

 
 
  
 
 
 
 
MINHA VELHA INFÂNCIA, por João Maria Ludugero

E eu era tão feliz 
Avarandado pela ciranda 
Das horas sem catracas,
Quando eu era criança 
Lá na minha pequena Várzea,
Tudo era demais gratificante
Fizesse sol ou chuva.
Tudo era bom, radiante que só vivendo,
Não havia tempo ruim, 
havia um bocado de sonhos 
De padaria, nuvens de algodão, quebra-queixos
E puxa-puxas de papos de anjo 
a adocicar a rua grande. 
Era sorrir para tudo, sem vexame
Se havia choro, era só em face de um fútil não
Não havia pressa nem embaraço, 
Disparada só atrás da pipa, da bola e dos borregos.
O presente era um adormecer em dádivas do porvir,
Um despertar de futuro com cheiro de fruta bicada. 
A escola, o cheiro bom do livro, caderno, borracha, lápis.
Tudo tinha um cheiro de sabedoria e coisas novas
Era um dia após o outro, sem alvoroço.
Era ser a esperança do viver contente na Várzea,
Do saltitar vibrante da alegria de sentinela
Do grito puro que alerta só de manjar
Era ser criança cheia de esperança,
Era ser a verdade sem a cuca pegar,
O sorriso sem malícia, 
o correr para o banho de rio ou de bica,
O doce deleite que encanta 
e renova o dia-após-dia, 
O cada amanhecer de ser 
criança a correr os olhos,
A pintar o sete 
arco-irizando a aquarela-vida.

DE BEM COM A VIDA, por João Maria Ludugero

 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 DE BEM COM A VIDA,

por João Maria Ludugero. 

O azul tremia imerso num enorme chão reverdecido. 
Absoluto, deixou-me aos aromas a caminhar adiante, 
Feito vento que chega e alarga seu olhar de uma vez só
e sem esforço solta-se neste inenarrável paraíso... 
Arrasta as ideias, o pensamento, para na tua frente 
Com o mundo a correr dentro apertado no peito... 
Arruma o cabelo da mesma forma que crava os olhos no céu. 
Primeiro seu rosto, o contorno da boca e depois a linha 
Do horizonte mais definida a cada instante com devastadora clareza. 
Meu olhar dura mais que o poente acima da sua pele,
Liquefazendo as palavras sem perder o equilíbrio, 
O sorriso corre nos lábios como um marinheiro de pelo na venta
Em terra firme, revirando as paredes do completo bem-estar, 
Fazendo malabarismos no colo à exaustão de bem-viver, 
Sutilmente beija a minha nuca, descansa os abismos,
Afasta o medo da cuca maluca, atira os olhos destemidos 
Em sua presença espairecendo completamente a lida
Ao folhear uma página da vida repleta de amores, 
Repassando seus sabores de uma folha para as outras, 
Amparando o coração com o fosforescer da alma inteira.

CONTEMPLAÇÃO DE MAMULENGO, por João Maria Ludugero


CONTEMPLAÇÃO DE MAMULENGO,
por João Maria Ludugero

Não só de manjar ou cubar a lida,
O fantoche obedece atentamente 
Ao comando do fiel mão molenga: 
Passatempo de sorrir e estar contente, 
Numa lavra de chorar com sentir dor.

Mas, a cara não muda. A gente sente 
Espiando em seu olhar, seja o que for 
De sorte e solidão, a inconsistente 
Vida a que uma outra vida dá vapor.

O Cara dos fantoches é um êxito a contento: 
— Considerável público, eu agora não esmoreço... 
(Não se cala a ululante patuleia)...
Um marejar de lágrimas e sorrisos esbugalhados
Nos cordéis literalmente entretidos 
(O fantoche em cena de euforia plena
Esbanjando-se em radiantes estripulias,
Sem lusco-ofuscar-se no palco ou nas ideias?)

ETERNO CORAÇÃO VARZEANO, por João Maria Ludugero


ETERNO CORAÇÃO VARZEANO,
por João Maria Ludugero

Daí fico de cubar a lida
Dentro da minha cabeça, 
É o nicho do meu legado: 
O sorriso assim esbugalhado,
O reverdecer em musgo de um lajedo cinza.
Posso juntar-lhe, ao acaso da memória,
Um galho de mulungu inclinado pela Várzea
Para as abelhas que metodicamente fazem
Da flor-essência a seara preferida do açude do Calango,
Um bem-te-vi que deixou a algarobeira da praça 
Do encontro para fazer ninho num poema meu;
Um pote de mel extraído pelo inesquecível Zé Miranda
E quantas abelhas-Europa se zangaram
Afoitas com a peleja desse varzeano;
Um singelo landuá chamado Xibimba,
Como que à espera de piabas no rio da Cruz.
Deve haver mais alguma coisa, isto posto,
Não serei tão humilde, cometemos sempre
A injustiça de não referir, por insensato pudor,
Coisas mais íntimas: um plácido pitéu de Seu Nenê Tomaz
Traduzido por Quincas de Nezinho, a mão
Que por instantes nos pousou no joelho
E logo voou dentre outras lagoas compridas,
Nas lembranças advindas de um ávido coração 
Teimoso em repetir que não envelheceu…

SAUDADES DA VARZEANA ZIDORA, por João Maria Ludugero.





 
 
 
SAUDADES DA VARZEANA ZIDORA, 
por João Maria Ludugero.

Naquela Várzea plena
Zidora fazia bolo preto 
E cozia mais macaxeiras.
Ao topar com os carrapichos de goma,
Fui depressa lhe pedir uma cocada,
Mas percebi Suetônio triste
Naquele encontro das raivas.
Abatido e sem consolo,
Diz-me que sua Mãe Zidora foi embora...

Várzea chorou e suspirou
Às margens do rio Joca,
Com a surpresa dessa morte,
Mas ao notar que só havia 
Cinzas no forno à lenha,
João Maria Ludugero fez poema
Só pra recordar dona Zidora
Dentro e alto na tarde amena!

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