Autor: João Maria Ludugero
Ontem, Jacinto pegou-se desnudo
Ao se ver refletido no espelho verde-musgo
das águas do açude. Jogou a toalha.
Ele se achou aos metros
Ele se achou aos metros
O mais belo dos homens.
Sentiu-se achando que era Narciso.
Sentiu-se achando que era Narciso.
Não carecia de ser-se mais nada,
Já que dono da própria beleza.
Era auto-sustentável.
Já se sentia muito e pronto.
Até parecia que trazia consigo
A cornucópia dos deuses.
E isso lhe bastava.
Já se sentia muito e pronto.
Até parecia que trazia consigo
A cornucópia dos deuses.
E isso lhe bastava.
O tempo passou. Sem reparos nem botox,
Jacinto odiou a imagem descascada
Que viu refletida no espelho. Não era ele!
Imediatamente, cuidou de quebrá-la.
Julgando-se imortal, de súbito,
Agora se achando o príncipe Namor.
Rebelde se atirou nas profundezas do lago,
Achando-se incapaz de viver nos dois mundos.
Perturbado, mais turbando à mente que de costume,
Não viu que o lago era raso... e pluft plaft!
Acabou prostrado num voo rasante,
Enamorado da eterna beleza de porcelana,
Desgostoso de si mesmo, afogou-se o coitado,
Desgostoso de si mesmo, afogou-se o coitado,
Entretido na busca exacerbada da musa perfeita
Que não estava mais contida nele.
Nenhuma flor nasceu onde jacinto se escafedeu.
Dizem por aí que Jacinto virou assombração,
Alma depenada.
Alma depenada.
E vez por outra, aparece a lamentar a beleza perdida.
Se alguém duvida da lenda, que acenda uma vela
Ou uma lanterna, e mergulhe fundo à procura
Do que realmente importa. Entendeu?
O que conta é amar-se assim mesmo,
De dentro pra fora ou vice-versando,
Até de cara lavada, com ou sem retoques,
O que conta é amar-se assim mesmo,
De dentro pra fora ou vice-versando,
Até de cara lavada, com ou sem retoques,
Sendo cisne, ganso ou pato
Bonito ou feio, misturando-se,
Aceitando-se inteiro,
Bonito ou feio, misturando-se,
Aceitando-se inteiro,
Sem fazer disso sentença de morte.
Acorde e se vista de sol ou de inverno,
Pouco importando em que primavera.
Areje o espírito, o fio condutor
Da eterna beleza efêmera.
Acorde e se vista de sol ou de inverno,
Pouco importando em que primavera.
Areje o espírito, o fio condutor
Da eterna beleza efêmera.
De resto, não acredite apenas
Na fugaz beleza do espelho.
Seu efeito pode passar depressa demais,
E ser miragem apenas.
Se Jacinto ora jaz...
Sinto muito!
E ser miragem apenas.
Se Jacinto ora jaz...
Sinto muito!
4 comentários:
João
Linda reflexão para este sábado. Já conhecia a história de Narciso, mas não sob sob a sua visão. Bem elaborada e poética. Ainda bem que encontrei você em seus versos e te chamei pro Jardim. Ou será que foi o contrário: que através dos seus versos achei você????? Seja como for, as duas observações são válidas.
Bjusss, bom fim de semana e Feliz Dia das mães para sua mãinha.
Sil
Criar imagens e sê-las.
Tão desnecessário quanto o narcisismo ou o "jacintismo" ora criado.
Belo texto
Abraço
Querida AMIGA SIL,
Obrigado pelo CARINHO. Você é que com sua luminosidade me chamou aqui (A sua chama me chamou). Neste cantinho me sinto tão bem, aconchegado. Agradeço a DEUS por encontrar pessoas tão encantadoras. Feliz dia das Mães! A minha há mais de dois anos voltou pro céu, morar acima das estrelas. E,mesmo longe, me serve de candeia em todos os momentos. Ela nunca me abandonou - Mora sempre no meu coração! Beijos.
João Ludugero
Perfeita reflexão para a época em que vivemos, João!
Beijos, adorei!!
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