CANTIGA PARA VARZEAMAR,
por João Maria Ludugero
por João Maria Ludugero
Se um dia fores embora,
Não te esqueças da água verde-musgo
que molha o paredão do açude do Calango.
E queiras nunca esquecer de levar sabores e temperançasem possantes delícias de beijus, mungunzás, grudes de coco, tapiocas, quebra-queixos, puxa-puxas, cocadas, raivas, carrapichos sonhos em papos-de-anjo e algodão-doce, línguas-de-sogra, soldas,
regalias, brotes, bolos-pretos e de fubá, babau de batata-doce,
dindim de coco-queimado, paçoca-de-amendoim e do cuscuz de milho-zarolho...
Se acaso não puderes os carregar na memória,
então, faças igual a este menino levado da breca,
carregue tudo no sagrado nicho do coração.
E ainda assim, se no peito não puderes por acaso os levar,
quebre o pote da fantasia e os carregue de banda,
num jeito inteiramente astuto,
em acordes de sonhos espairecidos no pensamento
queira os transportar leves em suas lembranças.
E se aí assim também não os couber,
amorteça as dores do meu inexaurível coração partido, afoito
por tanta coisa da Várzea que guarda como relicário,
ainda tão ávido e vivaz em seu arquivo-vivo de ideias.
Eu: continuo aquele tão terno João Maria Ludugero,
tão maduro e ainda tão menino,
a bolar o futuro combinado
desde a velha infância
que não se apaga no esquecimento.
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