sábado, 4 de junho de 2011

AS SANDÁLIAS QUE FICAM


Autor: João Ludugero

 Meus pés de moleque não me abandonam 
Sempre que recorro a eles, 
Toda vez que teimo em esmorecer.  
E, logo logo me reanimo,
Redobrando o vigor das canelas. 
Meu tio João Pequeno,
Fiteiro de aresias, já conversava:
Esse menino ainda me ganha o mundo!
Recordo de sua fala mansa, 
Quando profetizava essas coisas.
O tempo passou, passei sebo nas canelas.
Arrebentei as cordas e os cucos,
Quebrei meus cabrestos, 
Reviravoltei as ampulhetas,
Arregacei os punhos e as mangas,
 Desgarrei-me no real da vida.
Mas ainda choro ao lembrar do chão
Dos corredores da minha casa,
Da gaitada de meus irmãos
A zombar de mim, dessas miudezas
Em laços que me acompanham.
Como esquecer das podas
Tão necessárias às roseiras,
Dos botões arrancados do tergal,
 Do linho da minha camisa
De tecido volta-ao-mundo,





E das transparentes-sandálias-verdes-bala-soft
Da minha avó Maria Chiquinha da Conceição,  
Que ficaram esquecidas, largadas num canto, 
Num escaninho da estante da sala de estudos, 
Depois que ela embora se foi morar com Deus?
Só sei que deve ter um anjo-da-guarda
A me calçar o destino
Que me protege à sombra dos abrigos.
E eu sigo sempre alerta, de mãos dadas

Com  a lida, apesar dos perigos
E das cotidianas aleivosias.
Porque aprendi a segurar

Essa mão invisível.

4 comentários:

Sil Villas-Boas disse...

João
Este teu poetar, narrando os traços suaves de tua infância, soam como um filme a ser contado pelas sutis linhas de teus versos. Versos que navegam nas canções, palavras e pensamentos que guardam lembranças de um tempo querido pra você. Bom mesmo é apreciar esta viagem que fazes ao interior de tua alma.

Resumindo: Eita, que post mais lindo que li agora.
Bjusss e bom fim de semana.
Sil

Tatiana Kielberman disse...

Sempre um grande ensinamento, João!

Brilhante, adorei... Suas prosas, poesias e metáforas são geniais!

Beijos!

LoucaDeMente disse...

Ahhhh João... João Poeta! E eu já tive oportunidade e disse que há muito sou sua fã...

e esta sua viagem agora de mesmo a voar re/cor/dar ao chão o que a tua alma sempre alimentou e soprou...

Viajei junto contigo e também me coloquei a re/lembrar os meus que se foram e os meus gostos, sabores de infância que em mim são presentes e jamais passarão...

Além de todo o prazer que tenho em saborear suas letras que transbordam tão bela alma... Quero 'de cor' agradecer toda a transpiração que já comigo inspirou-se a mim encantou...

Obrigada por ser e nos deixar ver!

beijocas-que-em-ti-viajam...rs

Canteiro Pessoal disse...

Silvana, este teu cantinho é uma riqueza.

Abraços

Priscila Cáliga

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