Fernando Pessoa
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
3 comentários:
Sil, querida...
Sou verdadeiramente apaixonada por Fernando Pessoa - e ler esse poema no dia de hoje foi um grande presente!
De coração, obrigada...
O intervalo é a pausa necessária para o coração entender a intensidade do que acontece!
Lindo!!
Beijo grande...
Às vezes os intervalos ficam esmagados entre um "tum-tum" e outro, aqui no peito...
Beijos, Sil.
Sil,
Sempre trazendo sol pro nosso Jardim...E que sol! Fernando Pessoa é tão tudo...é sempre tão intenso quanto lindo. As letras, sejam as tuas, que tanto me encantam, sejam as dos nossos mestres que nos ensinam, são sempre sementes de luz, amor e sublimação por aqui.
Amo esse espaço, sou fã confessa das letras que aqui encontro.
Beijokas carinhosas,
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