ela requebra, balança,
cai, mas não se prostra na lida
cai, mas não se prostra na lida
ao atravessar viadutos, altos e baixos.
De quebra, se debruça, se enxerga
pelo retrovisor dos automóveis
de luxo, desnuda ela entrega a carne
faz a barganha por outras bermas,
com uma lágrima presa
na garganta, profunda,
apressa o passo, abre as pernas
estende a alma que ficou longe dali,
como quem sonha, pensa em ter vida própria,
vez que a sua há tempos ficou guardada
noutra realidade menos cuspida
que neste poema não se concluirá,
não será soneto, mal soará,
sem chave de ouro:
posto que é sorvedouro,
uma esponja rústica, espessa,
apenas um mata-borrão de angústia
que não apaga o suor ardente
no semblante de Madalena,
lágrima vertente a escorrer
quase oculta num canto da boca
dessa mulher de vida dura,
consciente que mão nos lábios e tal
não é apenas batom, mas atura os ais,
reborda as vestes, cinge as urdiduras
das impostas camisas de força,
antes de recompor a moldura de Vênus
que a expõe na tela da vida real,
antes da batida final
do martelo do arremate.
Dou-lhe uma, dou-lhe duas...
Quem dá mais?
4 comentários:
Bárbaro! Eu amei. Parabéns.
Que triste...
Muito bonito o texto, retratando uma realidade cruel.
Um beijo, João.
tantas vidas cabem neste poema. Lindo, real!
Beijo Ludgero!
Beijo, Sil!
Nuvem Branca, Luna e Van,
Muito grato pelas gentis palavras.
Agradeço os primorosos coments. Voltem sempre, pois é um grande estímulo essa força que vocês me dão.
Abraço carinhoso,
João.
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