segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CABEÇA DE BOI, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CABEÇA DE BOI, por João Maria Ludugero

Como em turvas águas salobras 
Na vazante da enchente do rio, 
Eu sinto o boi ao meio submergido 
Depois dos destroços do estio 
Dividido e subdividido em ossos, 
Onde rola à beça, enorme, a cabeça. 

Boi destroncado, boi morto, boi desfeito. 
Verdes juazeiros de paisagem calma, 
Convosco – altas, tão marginais!- 
Fica a alma, a esbaforida calma, 
Atônita para jamais ser afoita na seca,
Pois o corpo, esse se esvai com a vaca desvalida,
Completamente atolada, sem alvoroço. 

Boi morto, vaca morta, bezerro órfão. 
Boi esfacelado, boi descomedido
Boi espantosamente destroçado 
Morto, sem forma ou sentido tal
Ou significado. O que foi na lida,
Ninguém sabe. Agora é boi morto, 
Boi desatinado, boi arrebatado, boi desvalido
Boi do adeus sem grito de alerta, despojado,
Insosso de ponta à cabeça, eiras e beiras...

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