sábado, 22 de outubro de 2011

VENDEDOR DE PIRULITOS - Por João Ludugero


Perambulei pela rua grande
da minha cidadezinha,
 rua abaixo, rua acima  
sem ser vazio no interior,
não fui vagabundo,
passava sebo nas canelas, sim,
mas não para ter pernas vadias.
Ia pelos becos, praças e escolas
de tabuleiro cheio de pirulitos.
Eu fui vendedor deles
quando a vida me vestiu de calça curta,
tão inocente, imaculado tal qual caramelo,
tão puro moleque, eu cria em atravessar o tempo,  
a salivar desejos numa vontade doida que só vendo
de cair de boca, de língua afiada por uma lambida de leve,
lambuzada frenética, acordada, afoita tão sonhada
de permeio, na tábua de puxa-puxa de dona Zidora,
que me carregava a descolar alguns trocados
pelas quatro bocas da minha Várzea!
Mas, ao cair da tarde, de quebra,
nenhum pirulito sobrava no tabuleiro
Vendia tudo... restava só a tábua em frestas
Preenchida só de furos.
E eu, na seca, com água na boca
a chupar o dedo quase feliz,
mesmo sem um fio de confeito,  
mesmo não tendo sobrado
nenhum rasgo de doce pra mim!
Assim, logo-logo voltava pra casa
tábua vazia, missão cumprida, no pulso,
contente da lida, refeito, uma mão na frente
e outra na tábua esburacada...
E ao fim, ganhava uns trocados
que me ajudavam a comprar guloseimas
na padaria de 'seu' Nenê Tomaz de Lima.
Certo dia vendi quase nada,
mas não voltei de mão abanando,
esqueci-me de pensar na consequência, e zás! 
Eu lá era menino de levar desaforo pra casa! 
Num vapt-vupt, resolvi dar cabo ao meu intento.
Travesso, usei da gula tantas vezes reprimida, 
com gosto devorei toda a tábua,
sem me preocupar com papéis, ao sabor
de balas ao dente, puxa-puxei, com cautela
para não quebrar o queixo.
Até grudei no céu ao deleite,
até a boca arrepugnar,
até enjoar de tanto doce.
Mas quer saber de uma coisa:
nunca me arrependi
do desenrolar deste acontecimento!
Fui vendedor de pirulitos, sim,
e num belo dia me fartei deles!

2 comentários:

Sil Villas-Boas disse...

João

Que delícia este post revival de minha infância. Adorava este tipo de pirulito, entre outras guloseimas que haviam na época, como um doce conhecido como 'japonês'. Adorei a sua "máquina do tempo" poética que me relembrou um doce passado.
Bjussss
Sil

Luna Sanchez disse...

Ah, estou me sentindo com 8 anos de idade, que delícia!

=)

Beijos.

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