NARCISO, A OLHO NU,
por João Maria Ludugero.
Narciso seca os olhos
De tanto observar o espelho
E o que vê não mais o completa.
Apenas se entristece, desajeita-se,
Em face da miragem imposta
Que contempla a olho nu
A verdade dia após
Dia não é
Aquela que se mostra,
A que ora se se apresenta, a feita
Dentro da moldura, está por fora
A que custa ser aceita,
Mas não é a que o agrada.
Posto que se acha quase sempre a fingir,
Quando se espia, reclama, rejeita-se,
Entediado que só vendo.
Não quebra o espelho, a contento,
Mas sai furioso em busca de outro ser,
Além do desnortear da rosa dos ventos,
Ele só mergulha fundo na mentira
Como alimento pr'o seu passatempo.
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