domingo, 15 de dezembro de 2013

VENTO/VENDAVAL/VENTANIA, por João Maria Ludugero

VENTO/VENDAVAL/VENTANIA,
por João Maria Ludugero

Eu tenho um pedaço de vento. 
Que me ensina coisas singelas, tão simples e tão belas…
Já me ensinou a gostar até de café em caneca de ágata. 
Ele me faz sorrir (rio e como me faz deslanchar). 
É um vento engraçado, moleque afoito, levado da breca, escancarado,
que me ensina coisas, mesmo sendo um vento tão jovem, quase uma brisa. 
Faz tempo que me vejo seu aprendiz, assim no papel de aluno ao sereno . 
Isso me comove. Voo com um vento lindo, contemplativo a me inteirar
(eu falo no presente, mas o vento pra mim existe desde outrora, 
Por aí, solto, que é a condição primordial de qualquer vento). 
Ele me deu uns olhos, arre, que eu não sei 
(eu aprecio muito essa interjeição: arre). 
Não tenho como explicar. Como é que a gente coloca 
Em palavras um olho de vento astuto e medonho? 
Não tem explicação. Ele me fez aprender coisas, desvendar sonhos 
E foram tantas e tantas coisas em deslinde, acreditem. 
Eu não vou listar. Eu já falei do café lá em cima,
Mas houve muitas estripulias pelos arredores da lida. 
Sem pestanejar, sem sombra de dúvida, 
Essa não foi a única coisa que ele me ensinou 
E eu fico aqui, sendo exagerado. Pode ser, mas creio. 
Mas ele me ensinou até a esbugalhar os pelos da venta,
Quem sabe nem fosse um vento lá grandes coisas. 
Mas, evidente que era. Seu cheiro estoura os meus tímpanos. 
Puro turbilhonamento sinestésico em algaravia, mas sem medo da cuca.
Seus movimentos desastrados me colocam no lugar. 
Totalmente sem querer, é assim um vento que me faz querê-lo
Por perto, na minha cara pelo resto da vida, 
A não ficar de inventar as coisas verdadeiras.
Mas ele sempre acha uma fresta na janela de casa e ganha asas, 
Trata de escapulir, sair fora e ser vento em outros batentes e bandas. 
A gente até tenta manter o vento preso, mas é muito difícil fazer isso, 
carece de uma tecnologia toda especial, cômodos hermeticamente fechados. 
Eu o deixo aberto, solto a perambular a contento com toda firmeza
Numa rajada pelos alpendres, pelas varandas, pela vargem,
Feito vento a bater e logo sair fora, voando doido, a ganhar o mundo.
Depois fico aqui, com a janela aberta, esperando sei lá que coisa. 
Que vento. Que nada. Vento vadio. 
Eu abro e fecho a janela, de coração partido,
Mas não me cancelo a esvoaçar pelo vendaval, 
Sem temer que a friagem mata,
Pois ele retorna trazendo bons ares.

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